Luísa Costa Hölzl
Há quarenta anos que faço férias em Portugal – tenho de me exprimir assim, pois apesar de ser de lá, lisboeta de gema, não posso dizer que faço férias na Praia da Rocha ou no Douro ou na Costa Nova...É que já não sou de lá, não moro nem vivo em Lisboa e, ao longo destas quatro dezenas de anos o país foi se reduzindo à região da Europa onde faço férias, não me distinguindo dos muitos alemães que conheço que optaram por Itália ou Espanha e ficam fiéis àquele lugar que um dia lhes agradou. Não sei se me agrada sempre passar quase seis semanas de verão em Portugal, nem questiono, é assim, porque sempre assim foi, e o meu marido alemão nunca se opôs, férias para ele é mover-se de Lisboa para o Algarve, sentar-se em cafés em amena conversa, comer umas ameijoas ao almoço, mais um peixe grelhado ao jantar, estar em família em que somos sempre muitos, calcorrear a Lisboa antiga e depois dar umas passeatas nos princípios de setembro pelo Portugal profundo, seguindo o velho lema dos anos 80 “Vá para fora cá dentro”.
E como aquelas idas para o Algarve (“para” porque nos instalávamos lá um mês) eram aventurosas e demoradas! Um dia inteiro entre partir de manhãzinha e chegar ao fim da tarde, todos derreados, mas felizes. Os quatro miúdos lá iam entaladinhos no banco traseiro de um carrão antigo, quente e abafado ao fim de muitas horas de filas intermináveis, o sol alentejano e inclemente obrigava a pendurar toalhas molhadas nos vidros das janelas, a minha imaginação a inventar histórias e ditos ou ensinamentos para que distinguissem uma oliveira de uma azinheira, de um sobreiro, de um eucalipto. E eram cantigas para entreter e evitar empurrões e queixumes mais quando é que a gente chega...E depois vinha aquela praia que lhes formou a infância, sempre igual durante semanas e que os faz ir e vir regularmente, agora adultos e com família própria, roídos de saudades pelos lugares que aprenderam a amar e por esses tempos passados de brincadeiras, de muito espaço, de dias que pareciam não ter fim.
As minhas férias agora são diferentes, às vezes há netos meus, ou sobrinhos-netos ou netos de amigos, e também é bom desfrutar sem responsabilidades e mergulhar neste país que é o meu.
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