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Troika na Grécia são “águas passadas”, Merkel vai “deixar saudades” na EU

Marina Typou deixou Thessaloniki, na Grécia, em 2017, rumo a uma nova vida de oportunidades profissionais, mas não esqueceu os duros anos de crise económica que já não associa à chanceler Angela Merkel.


Lusa - Joana de Sousa Dias


“Lembro-me perfeitamente de quando tudo começou, eu estava no meu último ano da escola secundária e, por causa da crise económica, eu só podia escolher universidades na minha cidade porque os meus pais não sabiam se teriam dinheiro para me ajudar a pagar os custos”, recorda à agência Lusa a assistente médica num laboratório de diagnóstico de medicina molecular, em Berlim.


“Ao escolher o que queria estudar também pesava o facto de que a maioria das profissões não teriam futuro, apenas uma carreira militar ou na polícia. Não escolhi nenhuma dessas vias”, confessa à Lusa.

A Grécia saiu formalmente do programa de austeridade a 20 de agosto de 2018, o terceiro desde 2010, mas a crise não deixou o país.

Foto ©Des Byrne - CC BY 2.0

“As pessoas já não pensam muito em como tudo começou, penso eu, de certa forma acomodaram-se a viver com pouco. Se encontrarem um trabalho a receber 800 euros ficam contentes, se forem mil euros ficam mesmo muito contentes. O problema agora são as rendas”, admite.


A origem da crise da dívida soberana europeia pode justificar-se com erros da banca, dos mercados e da própria atuação dos governos, com um agravamento provocado pela falência do banco Lehman Brothers, em 2018, nos Estados Unidos.


Seguiu-se uma crise da dívida pública e o conhecimento de que, nos primeiros meses de 2010, os governos gregos dos últimos anos tinham manipulado as suas contas, escondendo a verdadeira situação.


Em 2010, a ‘troika’, formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia discutiam as condições de um primeiro empréstimo à Grécia. A Alemanha e a chanceler Angela Merkel foram a cara da austeridade que se seguiria.


“Lembro-me que a maioria dos gregos odiava o ministro [das Finanças] Wolfgang Schäuble. Quanto à Merkel, não odiávamos, mas também não gostávamos. Agora as pessoas estão mais centradas nos conflitos com a Turquia e com o senhor [Presidente da Turquia, Recep] Erdogan, e acham que Angela Merkel está a ajudá-los e que ela não gosta da Grécia. O problema agora já não é a crise económica”, admite Marina Typou.


O diretor de economia internacional e perspetivas económicas do Instituto Económico Alemão (IW), Jürgen Matthes, admite que, em relação à crise da dívida do euro, “novos mecanismos de resgate foram estabelecidos”, mesmo “apesar das críticas muito duras de importantes liberais e conservadores de direita na Alemanha”.


“Considerando as diferenças de interesses entre o Norte e o Sul nesta questão, Merkel orientou-se por um caminho intermédio, sempre vinculando acertadamente a ajuda com incentivos para melhorar as deficiências que contribuíram para as crises, e tendo o cuidado necessário para evitar o risco moral”, destacou à agência Lusa.


Maria Typou não tem dúvidas, “as pessoas vão sentir a falta dela”.


“A maior parte das pessoas respeita-a, mesmo que não goste dela. Por isso sim, acho que a Europa vai ter saudades dela. Não sei quem virá no seu lugar, vamos ver”, acrescenta.


O economista Jürgen Matthes lamenta que, por vezes, “sociedades e políticos como Merkel tenham de pagar um preço alto por decisões muito boas e difíceis”, dando o exemplo de 2015.


“Na crise dos refugiados, ela decidiu com o coração e altos padrões éticos sobre um assunto muito controverso. Essa decisão foi certa do ponto de vista moral, mas levou ao aparecimento e estabelecimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD)”, lembrou.


Este ano é o último de Angela Merkel como chanceler da Alemanha, depois de quatro mandatos à frente do governo. As eleições legislativas estão marcadas para 26 de setembro.


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