A comunidade tecnológica portuguesa juntou-se e criou o Movimento tech4COVID19 com o claro objetivo de “criar soluções tecnológicas que ajudem a população a ultrapassar o desafio do COVID-19”. O movimento, criado no mês passado, tem como mote “encontrar soluções mais rápidas que a disseminação do novo coronavírus” e conta com mais de 4700 voluntários e dezenas de projectos, vários já lançados e outros que estão para breve.
Rita Guerrreiro
Tudo começou com uma conversa entre vários fundadores de startups que decidiram juntar-se - virtualmente - para discutir algumas ideias. Rapidamente se juntaram outras pessoas, amigos e amigos de amigos que “fizeram acontecer”, como nos conta Liliana Pinho, coordenadora de marketing e da comunicação externa do movimento.
Liliana falou ao PT Post de alguns dos projectos que já estão a funcionar, entre os quais Tools4Edu, cujo objectivo é “explicar como funciona o processo de ensino virtual, pois há muitos professores e pais que podem não estar propriamente familiarizados com estas ferramentas” ou ainda o Roomsagainstcovid, que permite conseguir alojamento para profissionais de saúde e garantir que têm “sítio para ficar caso não sejam da cidade onde estão a trabalhar e que não sejam obrigados a voltar para casa, para perto da família, e correrem assim o risco de os infectar. A plataforma ajuda-os a ficar isolados e em segurança para manterem as suas famílias em segurança e, até à data, já conseguiu alojamento para mais de 300 médicos e profissionais de saúde”, avançou ainda Liliana.
A somar a estes é ainda de destacar a Animalar, “criada para tentar desmistificar alguma informação que andava a circular na internet sobre o Coronavírus, com o principal objectivo de evitar o abandono animal por falta de conhecimento. Para além disso, sabemos que há muitas pessoas que vivem sozinhas com animais, e, na eventualidade de terem de ser internadas, esses animais ficarão sozinhos se não existirem alternativas”. Liliana não deixou de mencionar também o recém-lançado Studentkeep, que pretende contribuir para “garantir que todos os alunos têm acesso à internet e um computador para poderem seguir a escola através do ensino à distância. Para colmatar esta necessidade, esta plataforma sugere uma solução de apadrinhamento, que pode ser feito por pessoas a título individual ou por empresas (os keepers), e que disponibilizem temporariamente ou permanentemente o equipamento”.
O ritmo de trabalho da equipa do Movimento tech4COVID19 é mais que frenético e esta entrevista só foi possível graças a uma conhecida app de mensagens, decerto sobrecarregada nestas últimas semanas, por entre mensagens de texto e áudio trocadas ao longo de vários dias. A tecnologia confirma ter aqui um papel de grande aliada, e, segundo Liliana, trouxe mesmo “oportunidades espetaculares a nível profissional”. Ainda que pessoalmente esta realidade não lhe seja completamente nova, pois, como nos diz “já estava habituada a este ritmo de trabalho remoto e de trabalhar com equipas que não estão no mesmo escritório que eu e que tem horários diferentes”, Liliana reconhece o esforço acrescido que a situação de pandemia de Coronavírus acarreta para muitas empresas e seus trabalhadores. Contudo, foca-se no lado positivo: “Acredito que para muitas empresas esta seja uma realidade forçada neste momento, mas acho que tem sido uma grande aprendizagem para todos, no sentido de perceber como é que nós, não estando juntos, nos conseguimos manter próximos, conseguimos acompanhar o trabalho uns dos outros e conseguimos colaborar. Há várias ferramentas que nos permitem isso hoje em dia. Por exemplo coordenar calendários e agilizar tarefas, coisas tão simples como documentos partilhados para acompanharmos o trabalho uns dos outros em tempo real”.
O Movimento tech4COVID19 é a prova de que a tecnologia pode ter um impacto extremamente positivo na sociedade, como argumenta: “Nós além de estarmos todos cada um em sua casa, éramos quase todos desconhecidos uns dos outros. Eu neste momento trabalho com gente que nunca tinha visto e com quem nunca tinha trabalhado, com processos e métodos de trabalho completamente diferentes e que, por incrível que pareça, funcionam. Mesmo sem nunca ter conhecido pessoalmente a maioria destas pessoas e de não as conhecer para além da informação de trabalho que trocamos nas video-chamadas que fazemos”.
Em tempos difíceis como estes, o Movimento tech4COVID19 e as milhares de pessoas envolvidas dão-nos razões para sorrir sabendo que há quem se preste a ajudar e a contribuir para um futuro mais favorável. Por outro lado, a tecnologia permite também que não se perca completamente o contacto humano e a interacção social - ainda que virtual. Liliana relembra, por fim, que “Se não fosse a tecnologia eu não conseguia sentir-me tão perto da minha família e amigos, com quem tenho conseguido manter contacto todos os dias. Consigo fazer vídeo-chamadas, consigo manter uma proximidade que de outra forma seria impossível, o que ajuda a atenuar as saudades e, vendo as pessoas, ajuda também a perceber que elas estão bem e isso tranquiliza-nos”.
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