Maria Teresa Soares
Com Lisboa transformada em cidade semi- fantasma e o Algarve às moscas, isto já no fim de julho, tendo os governantes portugueses constatado que afinal o mui desejados turistas britânicos, holandeses, franceses, alemães, etc, não iam aparecer devido tanto às restrições como ao alarmismo causado pelo Covid-19, lembraram-se de uma possível , embora até agora neglicenciada fonte de receita, o turista português, ou melhor, os portugueses residentes no estrangeiro na sua habitual deslocação ao país natal no mês de agosto.
E assim, quando menos se esperava, o turista estrangeiro deixou de ser rei e foi substituído pelo turista-emigrante, que, mesmo que não faça tanta despesa como aqueles acima citados, deixará o suficiente para tapar alguns buracos orçamentais.
Portugal é, basicamente, um país de vai-vem. O cidadão português que vai trabalhar para o estrangeiro porque o seu país de origem não lhe oferece alternativas e o cidadão estrangeiro que vem passar férias ou opta por residir em Portugal dado os três importantes predicados ligados geralmente ao nosso país, a saber: bom, bonito e barato.
De tal modo o conceito de que “o que é estrangeiro é que é bom” se desenvolveu que , seja por subserviência seja por pura estupidez vários restaurantes no Algarve já nem tinham ementa em português, mas unicamente em inglês ou francês, com a asinina desculpa de não ter clientela portuguesa.
Certo, mais vale o turista estrangeiro, mal-amanhado e de barba por fazer, de calções e chinelos a qualquer hora do dia ou da noite, disposto a pagar 5 euros por uma bica e até a achar barato do que o turista português, com melhor aparência mas menos “intrujável”.
Com a língua portuguesa passa-se mais ou menos o mesmo. No estrangeiro, e principalmente desde a tutela do Instituto Camões, em 2011, que a vertente de língua materna foi absolutamente ignorada, suplantada pelo Português língua estrangeira, visto ser política do citado Instituto que no estrangeiro a nossa língua só teria valor como língua estrangeira. A expressão “língua materna” ligaria o Português à emigração, conferindo-lhe assim “status” inferior.
A verdade é o o Instituto Camões não está nem nunca esteve vocacionado para o Ensino do Português aos alunos de ensino básico e secundário, filhos dos trabalhadores portugueses no estrangeiro, aos quais insiste em cobrar propina,proporcionando porém ensino gratuito a alunos estrangeiros.
Será que tal atitude, discriminatória e inconstitucional, se irá modificar agora que o português emigrante é rei, nem que seja apenas por um verão, devido à falta de turistas estrangeiros?
Será que o nosso governo vai reconhecer, finalmente, o enorme contributo dos portugueses nas Comunidades para a economia portuguesa, com remessas de 37,5 milhões de euros em 2018/19, mais que os 20,5 milhões dispendidos na mesma altura para salvar a Banca?
O futuro o dirá. Com apenas 314 professores a seu cargo, menos de que muitas escolas em Portugal, o IC obstina-se em poupança, estando agora muito virado para o ensino digital, mesmo para os pequenitos do 1° ano de escolaridade que, como é de conhecimento geral, terminaram o passado ano letivo semi-analfabetos pois nessa idade o ensino à distância não resulta.
Verão os portugueses no estrangeiro finalmente os seus direitos reconhecidos? Ou, quando passar a pandemia, voltarão a ser unicamente aqueles que estão “lá fora”?
Comments