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Portugueses a viver na Alemanha obrigados a alterar planos de férias

Muitos portugueses a residir na Alemanha viram-se obrigados a cancelar ou a alterar as viagens planeadas ao país de origem, depois do governo de Berlim ter colocado Portugal na ‘lista vermelha’ entre 29 de junho e 6 de julho


Lusa / PT Post


As mensagens de tristeza, resignação e alguma confusão multiplicaram-se na rede social Facebook. Depois de conhecida a decisão do Instituto Robert Koch, que obrigava a uma quarentena de 14 dias para quem viajasse de Portugal, foram muitos os portugueses que estão a cancelar ou a alterar as férias.


Portugal esteve classificado como uma área de variantes [do SARS-CoV-2] de preocupação durante uma semana, de 29 de junho a 6 de julho (inicialmente, previa-se o mínimo de duas, mas a decisão foi revogada antes do termo desse período), o que requeria uma quarentena obrigatória, mesmo com teste negativo, comprovativo de vacina ou imunidade.


“É muito triste”, escreveu Maria Relvas, que se viu “impedida de ver a família” este ano, sublinhando que alterar as férias vai ser praticamente impossível.

Foto de Etienne Girardet para Unsplash

A viver há cinco anos em Berlim, Ângela Fernandes contou à agência Lusa que tinha voo marcado para Lisboa para 10 de julho, e não o desmarcou prontamente, dizendo “Tenho esperança que as coisas possam mudar até lá (...) Ponho a hipótese de cancelar porque não posso fazer duas semanas de quarentena. O meu empregador diz que ao viajar para uma zona de risco vou por minha conta, é da minha responsabilidade, logo terei de lidar com as consequências, como dedução no salário”, explicou.


“Aqui em Berlim o desconfinamento chegou mais tarde que em Portugal, o que quer dizer que só agora começamos a ter uma pequena ideia de uma vida normal. Os efeitos psicológicos de voltar outra vez atrás são pesados”, revelou.


A esperança concretizou-se mesmo. “Senti-me extremamente aliviada, porque já estava a pensar que não ia ter férias e, de repente, esta mudança, deu logo outro descanso, permitiu-me vir a Portugal e preparar-me para o Inverno rigoroso na Alemanha”, comentou com o PT Post.


Nicole Saraiva já tinha tudo planeado. Depois de no ano passado ter optado por não viajar a Portugal, teve de ficar novamente sem ver a família, apesar de já ter as duas doses da vacina. “Por causa do trabalho, não posso ficar duas semanas de quarentena”, lamentou.


Com um casamento marcado para dia 03 de julho em Ferreira do Zêzere, Sofia Aleixo teve de alterar tudo, outra vez. Primeiro, mudou o voo de ida, que estava planeado para Lisboa. Face às novas regras, já não houve mudança possível.


“Já tinha tudo marcado e planeado, e não vou poder estar num acontecimento que não volta a acontecer”, lamentou, em declarações à agência Lusa.


Rui Couto, a viver em Munique, costuma ir a Portugal todos os verões. Não vê a família há quase um ano, e assim vai continuar.


“Em março deste ano decidi trocar de emprego aqui na Alemanha (...) Como também vou trocar de apartamento, teria de voltar até dia 14 de julho (...) Com as novas regras, e apesar de já estar vacinado, teria de fazer uma quarentena a iniciar a 05 de julho, o que me impediria de tratar de tudo. Não tenho opção se não cancelar”, apontou.


“Já não vejo a minha família há cerca de um ano, e agora finalmente estaríamos todos vacinados, mas a nova variante e as regras apertadas não me deixam outra hipótese que não seja adiar a reunião familiar mais uns meses”, acrescentou o português de Espinho.


Paulo Madeira tinha planeado três semanas de férias. Com a quarentena ficariam reduzidas a duas, o que “não compensa financeiramente”, admitiu à Lusa.


“Confio nas decisões das autoridades alemãs, considero-as da máxima competência e se tiveram esta atitude é porque algo não está bem”, realçou.


Para este português, esta opinião não foi abalada pelo volte-face na classificação do país numa área de variantes. À luz do novo contexto, tem uma viagem para Portugal marcada, cuja realização ficará condicionada ao levantamento de qualquer período de quarentena, considerando que o seu agendamento para a segunda dose da vacina está marcado para dois dias depois do regresso planeado.


Para Filipa Sofia esta situação é “muito difícil e triste” porque Portugal passou de “bestial a besta numa semana”. Esta portuguesa cancelou a viagem para Lisboa já que os filhos, que frequentam a escola, não têm férias e não poderiam fazer quarentena de 14 dias.


A inversão na catalogação de Portugal e regras associadas não a fizeram mudar de ideias, considerando a situação que o país atravessa. “A situação em Portugal não está estável e há muitas pessoas a apanhar o vírus, mesmo estando vacinadas. Ir lá, para não conseguir estar com ninguém, não poder desfrutar a 100%, face às imensas restrições impostas… mais vale ficar aqui, onde sempre vamos fazendo alguma coisa; não queremos estar a limitar-nos.”


Apesar de esperar poder ir a Portugal no final de agosto, há que aguardar pelo desenvolvimento da situação epidemiológica e restrições em vigor. “Acho que temos mais um ano ou dois pela frente deste cenário de: escola em casa, agora está tudo bem, depois fecha tudo, depois, de repente, vacina outra vez, e depois vai fazer mais um teste – paga teste, depois já não paga… Não é monótono: todas as semanas temos qualquer coisa nova para perceber!”


Em declarações à agência Lusa, o conselheiro das comunidades portuguesas, Alfredo Stoffel, admitiu que terá também de cancelar as férias planeadas para Portugal, questionando-se sobre a vantagem de estar vacinado e fazer dois testes por semana. Tem recebido várias mensagens de “desapontamento, incredulidade e insegurança”.


Manuel Campos, presidente da associação GRI-DPA (Grupo de Reflexão e Intervenção da Diáspora Portuguesa na Alemanha), em debate com a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes e o deputado José Cesário na Rádio Observador, levantou a mesma interrogação e deixou mais questões com respeito à decisão alemã, que considerou “altamente confuso, extremo e absolutista, pois ó aprofunda e faz perder ainda mais a credibilidade na Política e aumentar a suspeita de retaliações políticas de uns países contra outros países”.


A decisão de considerar Portugal como área vigorou entre 29 de junho e 6 de julho. Na sua origem esteve o aumento da taxa de incidência de Portugal, que registava, na altura, 137,5 casos por 100 mil habitantes. À data de publicação deste jornal, este indicador registava 333,2 casos por 100 mil habitantes.


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