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Perdoai-os Senhor, eles não sabem o que fazem


1 Não, não fui acometido por um rasgo de religiosidade neste início de ano. Mas, perante o que vivemos, pouca originalidade sobra do que aquela que me leva a apelar, via interjeição, a um elemento externo culturalmente partilhado.


Que nos resta quando o marasmo é o traço que caracteriza as actuais lideranças políticas?


Este é um tema a que não tencionava voltar. Mas não há como contornar. Faz agora um ano que começávamos a ouvir falar sobre um vírus que se propagava em Wuhan. O que era, como se transmitia e o que significaria para as nossas vidas era, ainda, sobremaneira, desconhecido.


A incerteza dominava, o que não era de estranhar perante algo novo. Estranho é que, um ano depois, continuemos ‘às aranhas’ quanto à afirmação de um caminho a seguir. Não há que invejar quem viu teve esta crise a cair-lhe nos braços.


Contudo, se no início não podia senão haver solidariedade com aqueles que tiveram de definir um caminho para lidar com a crise, hoje não se lhes pode perdoar o laxismo que se seguiu. Não é tolerável que a seguir a uma primeira vaga não se tenha planeado uma segunda, que todos antecipavam que viria com o Inverno, estação do ano que a tornaria pior que a já vivida.


Se o planeamento era importante, mais se exigia aos líderes políticos que fizessem valer uma liderança. O mais importante para as pessoas, para a nossa sociedade, neste momento, seria, a meu fazer, que fosse dado um enquadramento. É muito mais fácil atingir objectivos se eles forem claramente definidos e o caminho para os alcançar anunciado. É isso que não perdoo, continuamos em experimentalismos de confinamento com pouca atenção à sua eficácia. A saturação, compreensível, das pessoas com as restrições, já as torna menos propensas a implementá-las com a convicção inicial. Não saber por quanto tempo e sem esclarecimentos claros e atempados sobre inflexão de estratégias, piora tudo. E isto vive-se na Alemanha, em Portugal e um pouco por todo o mundo. A vacina pode trazer esperança, mas gera, igualmente, ansiedade. O início das campanhas de vacinação deveria ter sido melhor gerido, enquadrando-o explicitamente numa linha temporal para a normalização das nossas vidas.


Andamos de confinamento em confinamento, permitindo uma intervenção estatal ímpar e uma coma económica que não sabemos bem no que irá resultar. Há aqui alguma desresponsabilização, na medida em que os governos se habituaram a refugiar nos confinamentos como resposta para tudo e que tudo lhes perdoa.


Entretanto, quem tem negócios é quem sofre. Neste momento, a Alemanha muda as regras de ajudas definidas em Novembro, ainda por pagar. O mais importante para os agentes económicos era saber com o que contar, face às privações que lhes são impostas. Pelos vistos, é pedir demais.


2 São lapsos, Senhor, são lapsos (arrisco-me a esgotar a menção ao divino que me permito num ano). As rosas desbotam e as espinhas afiançam-se entre as crises sucessivas que afectam o governo português. Esperaríamos que o início do ano pudesse ser um novo começo, esquecendo a vergonha do final do anterior. Mas não, parece que nos querem garantir que nos envergonhemos perante os nossos pares e aliados internacionais com o escândalo da nomeação do procurador português para a nova procuradoria-geral europeia. Isto no arranque da presidência portuguesa do Conselho Europeu. Às vezes, é mesmo as good as it gets.

3 Fazemos nesta edição um esforço adicional de dar a conhecer os candidatos presidenciais, numa eleição que já nem consigo comentar de tão má que é, seja ao nível administrativo, seja ao nível político. Faça-se notar que Marcelo Rebelo de Sousa, Marisa Matias e Vitorino Silva não constam das páginas desta edição não por decisão editorial, mas por indisponibilidade para responderem às questões que lhes foram colocadas e reavivadas múltiplas vezes.


Tiago Pinto Pais


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