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O estado a que isto chegou

Teresa Soares


Foto: Free To Use Sounds, Unsplash

Um ano após o início de uma pandemia que continua a assolar-nos, e que não parece minimamente inclinada a abrandar, já deveria estar claro que a situação é muitíssimo séria.


As vozes otimistas que declamavam a mantra “vai ficar tudo bem” emudeceram, e com razão, porque o advérbio “bem”, atualmente, encontra-se mais associado à expressão “bem mal”, assim como o adjetivo “positivo”, agora principalmente entendido como sinónimo de “infetado”.


Portugal, considerado como bom exemplo nas medidas de combate ao vírus na primeira vaga pandémica, passou ao extremo oposto e é, agora, um dos principais destinos a evitar.


Deve, porém, dizer-se que, no verão passado, Portugal foi um caso patente de mais fama que proveito, pois os índices relativamente baixos de infeção não constituíram incentivo ao turismo, que quase não existiu e, seguindo o princípio de “rapar o fundo do tacho”, a Exma. Sra. Secretária de Estado das Comunidades e o Deputado da Emigração Paulo Pisco tentaram cativar os portugueses no estrangeiro para vir nas férias a Portugal, país seguro, tendo ido rececionar alguns deles na chegada à fronteira de Vilar Formoso.


Se não entrava verba dos turistas estrangeiros, pelo menos que entrasse dos portugueses...

Portugal, país seguro e com escolas livres de infeções, publicidade que começou em setembro, com a reabertura da totalidade das mesmas, porque estava tudo muito bem, e que continuou em dezembro, dado o desejo dos governantes em proporcionar um Natal feliz e normal aos portugueses, tudo aberto e festejemos, embora com os índices de infeção e número de óbitos em crescimento.


O Natal “feliz”, aspas intencionais, não estava diretamente ligado à ideia de felicidade, mas sim à campanha eleitoral, vulgo “caça ao voto”, porque predominando o desejo de agradar a alguns “lobbies” e a um ou outro grupo de eleitores, não houve encerramentos de qualquer espécie e os estabelecimentos escolares continuaram a funcionar a 100%, atitude irresponsável e perigosa, mas apoiada na imprensa por artigos otimistas, de autoria de peritos ou de menos peritos, afirmando que crianças e jovens eram imunes ao vírus e que era seguríssimo ter turmas de 28 alunos todos juntos na mesma sala.


O facto de que nas escolas também trabalham adultos - professores, não-docentes e pessoal de secretaria – foi diplomaticamente ignorado, tendo faltado pouco para que alguém afirmasse que a mera profissão docente poderia ser um tipo de escudo invisível contra o Covid-19.


Portanto, tudo aberto enquanto durou a campanha eleitoral, e, quando já no fim da dita, com a catástrofe pandémica a atingir proporções que não podiam ser ignoradas, foi decretado o encerramento das escolas, as lamentações e protestos foram tais que o encerramento parecia ser passível de luto nacional.


Portugal está agora na lista negra dos países em piores condições, tendo já requerido apoio de profissionais de saúde e equipamento médico a outros países, entre eles a Alemanha.

Depois da casa roubada, trancas à porta, como se costuma dizer. Ignora-se o perigo para obter mais uns votos e, depois, valha-nos Deus. Ou os médicos alemães.


Ignora-se, por comodismo, que um indivíduo nascido em 1925, agora com 96 anos, assistiu e sobreviveu às consequências da 1ª guerra mundial, viveu a totalidade da 2ª, foi testemunha da epidemia de pneumónica, do flagelo da tuberculose e possivelmente teve a escolaridade interrompida, portanto o que se passa agora não dá direito ao monopólio da catástrofe, embora por vezes assim pareça.


Guerras e epidemias são indubitavelmente catástrofes. Escolas encerradas para controlar o vírus não são e nunca deveriam ser apresentadas sob essa luz.


Assim, ignora-se propositadamente que fora do contexto da pandemia há milhares de crianças e jovens por esse mundo fora que não têm escola e não vão ter, como os filhos dos refugiados e aqueles que vivem em países onde a guerra é a triste realidade diária.


Que não venham os arautos do Apocalipse clamar que se vai perder uma geração e que, horror, como é que se vai fazer com as notas e os exames?


No rescaldo da 2ª guerra mundial, só nos anos 50, começou a haver aulas com regularidade.


Terão embrutecido todos por isso? Não consta. E não existiam computadores, nem internet, nem Skype, nem aquilo que no ano passado se chamou ensino à distância e agora se começa a chamar ensino remoto, talvez porque o controle sobre a situação também o seja.


Seria recomendável que, em vez de nos agarrarmos a uma realidade que já não existe, e que não voltará a ser como era, pensássemos em novas possibilidades, por exemplo reconhecer que agora o mais importante é acompanhar e apoiar os alunos e não entupi-los de matéria escolar, porque crianças e jovens também estão a sofrer. Quantos perderam pais ou parentes devido ao Covid? Quantos têm pais desempregados pela mesma razão? Ninguém sabe; mas existem e precisam de apoio. Se não o tiverem é que poderão ser na verdade uma geração perdida.


E, para finalizar, o que se passa com as crianças e jovens portugueses no estrangeiro, alunos dos cursos de Língua e Cultura Portuguesas, a cargo do Instituto Camões?


Muito pouco, porque no ano letivo passado o citado instituto optou por ignorar a pandemia, declarando que a dita não tinha causado perca de alunos, embora já fossem mais de 400.


E, no presente ano letivo, com muitos alunos a terem ensino remoto ou mais que remoto, em más condições, o IC nada mais soube fazer que cobrar, em meados de janeiro, com cerca de 10 meses de antecedência relativamente ao ano letivo de 2021/22, a propina que é única e injustamente aplicada aos cursos frequentados por alunos portugueses, porque aqueles para os meninos estrangeiros são gratuitos.


Depois disseram que tinha sido engano da Plataforma, parece que esta tinha resolvido ser autónoma e decidiu enviar pedidos de pagamento aos pais dos alunos.


O estado a que isto chegou...

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