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O Partido Socialista parece esmerar-se continuamente para ultrapassar a sua capacidade já conhecida de gingar com os portugueses. As eleições legislativas dão-lhe uma maioria absoluta caída do céu? Agradeça-se com um governo paupérrimo! Os portugueses residentes na Europa dão-lhe os dois deputados elegíveis pelo círculo? Nomeie-se um Secretário de Estado das Comunidades sem currículo para a pasta e que se antecipa que andará mais preocupado com o Resto do Mundo do que com a Europa!…
Uma maioria absoluta deveria traduzir uma responsabilidade acrescida do partido que a alcança com os eleitores, é, afinal, um voto de confiança extremo. Mas para o partido vencedor das eleições legislativas de 2022, o conceito de responsabilidade tende a ser-lhe alheio. Não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão: António Costa desperdiçou a oportunidade de constituir um governo capaz e reformador, que pensasse o país para o futuro e se preocupasse com a melhoria das condições de vida dos portugueses (para quem não tenha dado conta, Portugal já foi ultrapassado pela Polónia e Hungria no indicador de riqueza per capita; o país parece estar em competição para ser o país mais pobre da União Europeia). Uma maioria absoluta era uma oportunidade ímpar para ir buscar pessoas competentes, independentes se fosse preciso, com uma agenda ambiciosa para as pastas que viessem a liderar. Mas não, foi usada apenas para premiar quadros do partido vencedor e dar por oficialmente aberta a luta pela sucessão do actual Secretário-Geral do PS. Como bem resumiu João Miguel Tavares, este governo oferecer-nos-á uma temporada ao vivo da série televisiva ‘Succession’: irá ser um forrobodó protagonizado por Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, e Pedro Nunes Santos.
O anúncio da constituição deste governo parece também ser um atestado de menoridade às comunidades portuguesas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros parte com um ministro fragilizado, em choque com o Presidente da República, que terá impedido a sua continuidade na Defesa. E na Secretaria de Estado das Comunidades, repete-se a nomeação de alguém sem passado ou interesse conhecido na área, um quadro do PS que recebe um prémio de consolação pelo sacrifício que fez pelo país: foi-o com Berta Nunes, que em 2019 não conseguiu a eleição como deputada pelo circula de Bragança; é-o novamente com Paulo Cafôfo, que não conseguiu vencer as últimas eleições regionais na Madeira.
A falta de amor aos portugueses residentes no estrangeiro é ainda mais surpreendente perante aquilo que foi esta eleição, obrigando à repetição da votação no círculo da Europa. Este governo e este parlamento (e muito concretamente o PS) têm a obrigação de arrancar com a revisão da lei eleitoral com a maior brevidade possível. E Paulo Cafôfo vai ter de se provar independente dos interesses do partido na Madeira (cada viagem à Venezuela e África do Sul terá de ser duplamente escrutinada – não poderá arriscar-se que seja acção de charme junto das comunidades madeirenses no estrangeiro para as próximas eleições regionais) e rapidamente capaz de se inteirar dos principais assuntos sob a sua tutela: a posição da sua antecessora obriga-o a tomar posição quanto à taxa de frequência dos cursos de ensino de português no estrangeiro e a revisão do regime de apoios ao movimento associativo está na sua secretária.
Caber-nos-á a todos garantir que a maioria absoluta que suporta o novo governo não lhe oferece um passeio descansado nesta legislatura.
Tiago Pinto Pais
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