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Merkel, a chanceler em aprendizagem que mudou o tom dos media alemães

Respeito aparece em negrito nas relações entre os ‘media’ e Angela Merkel, sublinha o jornalista alemão Marco Bertolaso, mesmo que não exista amor, ou simpatia pela chanceler que até conseguiu mudar o tom do jornalismo.


Lusa - Joana de Sousa Dias


O chefe de redação da rádio nacional alemã Deutschlandfunk acredita que a história “vai ser generosa com Angela Merkel”, não duvidando que os meios de comunicação venham a ter saudades.


“Merkel contribuiu para uma mudança na cabeça de muitos jornalistas alemães. Observar, durante vários anos, que esta mulher não é apenas capaz de fazer este duro trabalho, como de o fazer ainda melhor que os homens, faz diferença (...) O clima, o tom nos media mudou muito, e penso que Merkel, apesar de não ser um modelo da causa feminista, fez muito por isto”, revelou em declarações à agência Lusa.


Para Martin Kessler, editor de política do jornal Rheinische Post, “houve, e há, uma relação especial entre Angela Merkel e os meios de comunicação social”.


“Ela defende a liberdade de expressão e um regime democrático pleno. Sempre aceitou bem as críticas à sua governação, sem represálias ou sem se sentir melindrada”, apontou à lusa.


Bertolaso associa a valorização da liberdade com o nascimento e crescimento de Merkel na antiga Alemanha de Leste, dominada pelo regime comunista.


“As pessoas que, como ela, viveram numa ditadura, sabem valorizar a liberdade. Ela respeita o papel dos media. Se os jornalistas perguntam coisas idiotas, ela perde um pouco a paciência e dá a entender isso, mas reconhece o papel dos meios de comunicação social”, explica.


Merkel, que termina o seu quarto mandato e abandona a política este ano, começou por ter uma presença tímida, humilde e qualificada de “pouco feminina”. A campanha para a sua primeira eleição à frente do governo alemão, em 2005, acabou por mudá- la.


Marco Bertolaso e Martin Kessler realçam a “capacidade contínua de aprendizagem” que algumas pessoas associam a uma característica dos cientistas.


O editor de política do Rheinische Post junta-lhe a inteligência, o sentido de humor, e uma forma correta de comunicar com os jornalistas, baseada em respeito.


“Eles tinham já um certo respeito por ela porque foi a responsável pela separação entre Helmut Kohl (antigo chanceler) e a CDU. Ele era o gigante, o ‘velho cavalo de guerra’, pai da Unidade, pai da Europa, mas tinha vários problemas associados ao desvio de fundos. Ela escreveu no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung um artigo de opinião, demarcando-se do ‘pai’. Um ato visto como muito corajoso e um sinal de que ela tinha um sentido de poder, clarificando a situação no seu partido no momento certo”, destacou o jornalista da Deutschlandfunk.


“A grande vantagem foi entrar depois de Gerhard Schröder (chanceler que a precedeu) um líder que, apesar de ter muitos admiradores, era muito duro, politicamente incorreto, falava muito e, por vezes, sem muita coerência. Não ser Schröder era um ponto muito forte para os ‘media’. Tinham uma pessoa na chancelaria que apresentava os fatos, que pensava, que explicava os argumentos de uma forma calma. Isto foi a lua-de-mel entre os ‘media’ e Angela Merkel”, acrescentou.


A chanceler, que, em 2013, transformou um gesto com as mãos, o “diamante de Merkel”, num símbolo de harmonia, estabilidade e poder, “sempre soube bem o cargo que ocupava”, deixando-se raramente apanhar “desprevenida”, admite Kessler.


“Eram criados grupos de jornalistas que ela ia informando individualmente, por exemplo, nas deslocações ao exterior. Mas mesmo nesses contactos, que até podiam parecer mais privados, ela sabia sempre o que dizer, nunca havia o verdadeiro fator surpresa”, frisou.


Mantendo sempre um equilíbrio entre próxima e à distância, pouco se sabe da vida privada de Merkel. O que se conhece, é porque ela assim o quer.


A “terminator” ou a “nazi”, como apareceu refletida em algumas publicações internacionais durante a crise económica de 2008, é também a “Mutti” que muitos alemães não querem ver partir.


Um estudo do Instituto revelado no passado fim de semana indica que 72% dos inquiridos está satisfeito ou muito satisfeito com a governação de Angela Merkel.


As eleições para escolher um novo chanceler estão marcadas para o dia 26 de setembro.


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