Maria Teresa Soares
É exatamente isso que o Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, tem vindo a fazer desde que assumiu, em 2011, a tutela do Ensino do Português no Estrangeiro, cursos de Ensino Básico e Secundário para crianças e jovens lusodescendentes, manter a aparência de que tudo está bem no sistema e de que o citado instituto tem feito um ótimo trabalho, declarações que, de facto, estão totalmente afastadas da realidade, embora em Portugal exista um sector de políticos ligados, estranhamente, à emigração, que apoiam tudo aquilo que é dito e feito dentro do EPE , ou porque não entendem ou porque, pura e simplesmente, tudo o que se passa nas Comunidades lhes passa ao lado , como se costuma dizer.
A verdade, sem enfeites, é que desde o início da tutela o os responsáveis do Instituto Camões têm trabalhado afincadamente para destruir o sistema, especialmente no respeitante aos alunos de nacionalidade portuguesa.
O EPE atual tem cerca de 50% dos alunos e professores que tinha em 2010, quando havia 624 docentes a lecionar a nível mundial, reduzidos agora a 314, e cerca de 20 mil alunos a menos.
Apesar desta triste realidade ser bem conhecida a atual Secretária de Estado das Comunidades, numa longa entrevista ao Portugal Post de novembro, optou por imitar o comportamento dos seus antecessores , fazendo um quadro do sistema desfasado da realidade , minimizando o mais grave e poetizando a situação no geral.
A vergonhosa “propina” instituída com o objetivo de afastar os alunos portugueses dos cursos e de reduzir a rede , um êxito total, que fez desaparecer 15 mil alunos de uma assentada em 2013, foi, segundo a Sra SECP, culpa da Troika…. teria a dita alguma coisa contra os portugueses no estrangeiro? Desconhece-se. E ,mesmo que tivesse, já vamos no segundo governo pós-Troika e a “ propina “ lá continua, pela simples razão que, para o Instituto Camões, cumpre dois objetivos essenciais: afasta dos cursos os alunos portugueses, reduz o número de professores e proporciona uma verba útil para utilizar em vários campos, inclusive custear manuais e bibliotecas distribuídos gratuitamente nos Estados Unidos e Canadá.
Quanto à rede de cursos, muito reduzida e fragilizada, só há a dizer que é ridículo que as entidades responsáveis pela catástrofe verificada em 2012/2013, com 49 professores despedidos subitamente em dezembro, inúmeros cursos encerrados e centenas de alunos sem aulas venham agora declarar mansamente que estão a envidar esforços para aumentar a dita, acenando com o miserável número de dois ou três professores, como se isso pudesse compor estragos propositadamente causados num passado recente.
Ou têm uma memória muito curta ou vieram ocupar o cargo sem ter sequer um conhecimento mínimo de tudo aquilo que foi (mal) feito.
Mas a propaganda não fica por aqui, porque a Sra SECP continuou o seu discurso de auto-elogio com o dito sucesso das aulas online, que não chegaram a atingir metade dos alunos, porque ou não dispunham dos recursos tecnológicos para tal ou eram demasiado jovens para esse tipo de ensino.
Talvez a Sra SECP ignore que a cerca de 80% da população escolar do EPE é composta por alunos até aos 10 anos de idade, de 1° e 2° ciclos, e possivelmente também não sabe que nem os emigrantes têm uma vida tão desafogada que lhes permita adquirir todos esses recursos nem os professores, que continuam com o mesmo vencimento que tinham em 2009, podem pagar do seu bolso altifalantes, Skype, câmaras, etc, tudo o necessário para as aulas a distância que muitos tentaram dar mas poucos alunos tiveram, causando a usual perca dos mesmos, que a Sra SECP também negou, mas que na Suíça foram “só” 400 e na Alemanha já vão perto dos 250.
E isso não foi culpa, como disse a Sra SECP ,dos professores já um pouco idosos e sem vontade ou capacidade para aprender a utilizar as novas tecnologias, até porque geralmente quem mais prática tem de ensinar é quem aprende mais rapidamente.
A culpa foi da incúria e indiferença dos responsáveis em Lisboa porque ,em vez de apurar quais as condições para ministrar ensino online , nada mais fizeram que encolher os ombros, decretando “dêem aulas à distância” , impingindo aos professores um sem-número de Plataformas inadequadas e cursos de dita formação, por vezes a pagamento.
Resumidamente, disseram aos professores do EPE que fizessem omeletas sem ovos, porque embora no Camões houvesse estes últimos, estavam como sempre ,reservados para os cursos de ensino integrado no horário, com uma maioria de alunos estrangeiros, que o Instituto Camões protege e acarinha, proporcionando-lhes um ensino gratuito e de qualidade, com turmas normais e não com alunos do 1° ao 10° ano lecionados conjuntamente como os professores do ensino paralelo, aquele da propina, têm.
A Secretaria de Estado das Comunidades deveria ser, como o nome diz, um órgão com a função de se ocupar dos portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro e garantir os seus direitos básicos.
Porém, e contrariando o nome, desde 2011 que apoia a aprendizagem do Português como língua estrangeira e não de origem, com manuais elaborados à pressa por indivíduos carreiristas ligados ao Instituto Camões, retirando o direito constitucional ao ensino gratuito, colocando os alunos portugueses e os seus professores, em situação de extrema inferioridade, tudo tentando para que cada vez sejam menos.
Que fazer? Mudar o nome da Secretaria ou ficar eternamente à espera que, em vez de propaganda de fraco gosto, façam realmente alguma coisa pelas crianças e jovens portugueses no estrangeiro, começando pelo aluguer de salas para ensino presencial que a Sra SECP prometeu mas não cumpriu?
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