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Música a partir de casa

Músicos portugueses na dianteira da utilização da tecnologia em tempos de crise


TPP


“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é o novo tema lançado pelo duo Barettino, composto por Higino Andrade e Pedro Matos, através da sua página de facebook. A divulgação do novo trabalho, que interpreta a composição de José Mário Branco com poesia de Luís Vaz de Camões, faz-se acompanhar pela observação que os tempos estão a mudar, questionando-se se as vontades também.


Concerto desde casa dos Three Old Women neste tempo de Confinamiento.
Concerto de Three Old Women: Guilherme Rodrigues, Gonçalo Mortágua e Higino Andrade

A indústria cultural é uma das mais afectadas em resultado das medidas de contenção da pandemia que se atravessa, colocando desafios àqueles que vivem dela. No caso da música, os artistas abraçaram com bastante prontidão as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias para continuarem a partilhar o seu trabalho com o público. Foi assim que surgiu a transmissão de concertos em streaming a partir de casa de músicos, tendo um violoncelista português, residente em Berlim, sido pioneiro na dinamização desta possibilidade: Guilherme Rodrigues criou a iniciativa “Fight Corona Series”, que reúne já 1.300 músicos e artistas que realizam concertos à distância. Este sucesso, que mereceu cobertura pela imprensa britânica, através do The Telegraph, deixou o português feliz por ser “uma maneira da cultura chegar ao público”. A ideia partiu dele e contou com o apoio imediato de um designer, que valorizando a iniciativa se dispôs a criar um logótipo e ajudar à promoção dos concertos.



Embora novidade, com os desafios inerentes, esta modalidade de concertos constituiu uma boa experiência para Guilherme Rodrigues e Higino Andrade. Guilherme, que transmitiu um concerto a solo, visto por 80 pessoas, e um outro em trio (antes das regulações mais restritivas ao encontro de pessoas) - Three Old Women, com Gonçalo Mortágua e Higino Andrade -, revelou-nos ter tido algum nervosismo antes do primeiro concerto, que ultrapassou criando um ambiente em casa mais próximo ao de um palco, com recurso a luz baixa, por exemplo. Tal permitiu ter a mesma sensação de actuar para o público, mesmo que estando em casa. Higino Andrade, por seu lado, referiu que o concerto de Barettino, apesar de algumas dificuldades técnicas a nível de vídeo, ofereceu a oportunidade de chegar a novos públicos, porque a Internet permitiu que o concerto fosse acompanhado a partir de geografias que ainda não conheciam o seu trabalho. Ademais, crê que o facto de as pessoas estarem no conforto das suas casas, com a possibilidade de interagirem através de comentários, torna a experiência bastante pessoal. Ambos os músicos portugueses referiram ter recebido doações em resultado das actuações, embora cifradas em valores muito simbólicos, havendo aqui margem para uma sensibilização maior do público no futuro.


Guilherme Rodrigues manifestou algum optimismo quanto à evolução desta crise, não sabendo, contudo, quanto tempo irá ainda durar o condicionamento à realização de concertos. Higino Andrade tem muita cautela quanto a essa possibilidade, acreditando que só surja, talvez, a seguir ao Natal. Guilherme faz votos que a maioria dos concertos cancelados possam vir a ser reagendados, visto que todos perderam muito trabalho.


Enquanto a crise prevalece, ambos os músicos portugueses têm dado aulas recorrendo ao Skype, com as suas vantagens e desvantagens, e aproveitado o tempo disponível para trabalhar em projectos que haviam ficado a aguardar disponibilidade de tempo e que poderão constituir, segundo Higino, uma oportunidade para lançar novo trabalho quando a crise passar. O músico revela também aproveitar a oportunidade para voltar a estudar, praticando a técnica, para além de investir na gestão dos canais online, colocando conteúdos no YouTube e outras plataformas.


Sobre o novo tema que o projecto Barettino divulgou, Higino Andrade contou-nos que já tinham trabalhado algumas ideias para o tema, tendo depois aprofundado individualmente a parte interpretada por cada um dos elementos do duo, o que crê também ter as suas vantagens. A gravação à distância foi possível com Pedro Matos a gravar primeiro a guitarra, que constituiu a base, a que se acrescentou a gravação de voz e a gravação de violoncelo e com recurso posterior a software para editar o tema, como seja a limpeza de ruídos.


Em jeito de conclusão, Higino partilhou connosco considerar que todos os músicos estão numa fase de experiência, podendo considerar-se mesmo de laboratório, para perceber melhor as possibilidades que se oferecem e poder endereçar os problemas inerentes.

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