Gonçalo Galvão Gomes
Gonçalo Galvão Gomes
Na edição de setembro de 2020, escrevi um artigo chamado “Liberdade em tempos de Covid”, naquele que seria, inesperadamente, o primeiro artigo sobre um tema que não se esgotaria em 2020.
Desde janeiro do ano passado, somos bombardeados com informação sobre a pandemia. O número de infeções, o número de mortos, a situação nas urgências, as novas restrições (que já se tornaram velhas), as medidas draconianas para uns e demasiado permissivas para outros, os prevaricadores e os cumpridores, os especialistas (e as suas contradições), os negacionistas e os “covideiros”*.
*covideiro: indivíduo com uma exabundante opinião sobre os efeitos do Covid19. Que acredita que a sociedade se deveria fechar por completo até que o número de infetados chegue a 0, independente de todas as consequências resultantes dessa ação.
Alguns dos maiores especialistas do mundo sobre a matéria, nomeadamente, o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas nos Estados Unidos, disseram-nos no início da pandemia, que o uso de máscaras era desnecessário e dava “uma falsa sensação de segurança”. Seja por convicção, ou porque se sabia que não havia produção de máscaras para todos e era necessário priorizar os serviços de saúde, isto foi posteriormente corrigido. Afinal a máscara era essencial.
A narrativa tem mudado um pouco por todo o lado. Enquanto alguns países privilegiam o uso de duas máscaras, outros têm mudado o tipo de máscara obrigatória. Quem, como eu, vive na Alemanha, terá provavelmente uma pilha de máscaras que se tornaram inutilizáveis devido às sucessivas mudanças. Em jeito de brincadeira, digo de vez em quando, que um dia virá a obrigatoriedade de usar um fato de astronauta.
É por isso normal, que a nossa opinião sobre o assunto, tenha mudado várias vezes no decorrer deste já longo processo. É também natural, que os virologistas sejam mais simpáticos à ideia do enclausuramento total da sociedade, e os economistas prefiram a sua reabertura. Pelas redes sociais, esta divisão também se nota bastante. Quem tem beneficiado de alguma forma com o confinamento, prefere que este se mantenha e por sua vez, quem tem sido prejudicado, quer uma diminuição ou até remoção das restrições. É fácil entender porquê: quem não perdeu rendimentos e deixou de fazer deslocações diárias (gastos em combustível, transito, stress,…), está mais confortável com a situação, do que um empresário que teve que hipotecar a sua casa para continuar a alimentar os seus filhos e manter o seu negócio. É difícil ser imparcial quando os nossos interesses pessoais estão em jogo. É a natureza humana.
A lógica dos números tornou-se quase impossível de entender. Há países com confinamentos rigorosos que apresentam números de infeções altíssimos, há países sem confinamento que tem mostrado números dentro da média. Portugal já esteve nas melhores posições, nas piores posições e agora está numa espécie de meio da tabela. A Alemanha é outro bom exemplo, com um governo completamente perdido e sem direção, antes considerado exemplar e que até tem uma Chanceler ligada às ciências, vai apertando com as restrições sem que isso se traduza nos resultados esperados. Entretanto, a economia vai sendo inundada com dinheiro dos cofres estatais, numa tentativa algo frustrada de não destruir todo o tecido empresarial. Muita gente fica feliz pelo facto de a Alemanha ter dinheiro “a mais” que lhe permite ultrapassar estas dificuldades, eu, como liberal, fico sempre com a sensação que se existe dinheiro “a mais”, então é porque me tem sido cobrado dinheiro a mais, mas isso é outro assunto.
No dia 2 de março de 2021, Greg Abbott, o governador Republicano do Texas, assinalou o dia da Independência deste estado Norte-americano, com uma ordem executiva para acabar com todas as restrições existentes impostas por causa do Covid. Todas as restrições foram levantadas, incluindo o uso obrigatório de máscara.
Esta decisão foi prontamente apelidada de “pensamento neandertal” pelo atual presidente Joe Biden e uma catástrofe foi vaticinada pela maioria dos média. O fim de todas as restrições só poderia significar uma coisa: o número de infetados iria avolumar de tal maneira, que os serviços hospitalares iriam ficar esgotados e isso levaria a um aumento da mortalidade ímpar.
A evolução do número de novos casos reportados segue no gráfico
seguinte:
Como se pode observar, mesmo após a exclusão das medidas de confinamento, o número de infeções tem vido a diminuir.
Podíamos atribuir este número à vacinação, porém, o estado do Texas está abaixo da média nacional de vacinação e está mesmo nos últimos lugares na tabela de percentagem de população vacinada e a diminuição do número de infeções não apresenta a mesma tendência a nível nacional.
Faz então sentido dizer, que o levantamento das restrições, foi a causa direta da redução do número de infetados? Claro que não. O aumento do número de contactos só se poderia traduzir num aumento do número de infeções e não na sua diminuição.
Mas então, como se explica esta tendência de contração?
Não temos base para a explicar e está na altura de termos a humildade para admitir que sabemos muito pouco sobre este vírus.
Sabemos que é particularmente letal nas pessoas com mais idade, que a taxa de mortalidade em quem tem menos de 21 anos é quase inexistente e que é de fácil propagação.
Sabemos também que confinamentos agressivos, vão destruir a economia, principalmente de países com menos robustez financeira como Portugal. Sabemos que a saúde física e mental das pessoas está a ser afetada e sabemos que confinar pode não estar a resolver o problema. De resto, sabemos que pouco sabemos.
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