António Horta
O início do Europeu de Futebol de 2020, jogado em 2021 fruto da crise pandémica, deixou-nos com muita expectativa e euforia, mas bem depressa voltámos ao chão da realidade.
A comunidade portuguesa concentrou-se num dos poucos locais, ou talvez no único,neste Estado da Alemanha (NRW) para assistir em public viewing aos jogos de Portugal: o recinto do Restaurante Cave Tapas, um dos três restaurantes dos sócios Filipe Castelo, José Esteves e Armando Cortes, e que, conjuntamente com o Rancho Folclórico Quinas de Portugal, são também os organizadores dos maiores festejos do Dia de Portugal nesta zona da Alemanha, além de outros eventos que dignificam o nome do nosso país.
Mesmo nestes tempos difíceis que atravessamos, estes três portugueses conseguiram levar a cabo a projeção dos jogos de Portugal num espaço ao ar livre em tela LCD gigante. Algo que noutros tempos seria fácil de realizar, nesta época de várias restrições, foram imensas as dificuldades encontradas, sempre sob grande controlo e exigências por parte das autoridades sanitárias alemãs.
No primeiro jogo, em que Portugal defrontou a Hungria, que nos deixou na expetativa de grandes sonhos, estiveram cerca de uma centena de pessoas presentes, contando-se entre elas a Cônsul Geral de Portugal em Düsseldorf, Lídia Nabais, que convidou a sua homóloga, Hanna Hittner, Cônsul Geral da Hungria em Düsseldorf, para assistir ao jogo no recinto do restaurante. Em conversa amena e bem-disposta, brindaram (como é obvio) à vitória de cada país, sendo que, no fim, saímos nós vencedores.
No jogo seguinte, contra a Alemanha, o espaço estava bem mais colorido com as cores de Portugal e da Alemanha: assistiram aqui ao jogo duas dezenas de adeptos alemães e mais de uma centena de portugueses. Infelizmente, depressa caímos no chão da realidade, com a derrota que levámos da Alemanha, de 4 – 2: como somos um povo bastante hospitaleiro, oferecemos dois golos à selecção alemã o que, neste caso, era mesmo desnecessário.
No jogo de Portugal Alemanha esteve presente o carro mais português na Alemanha e o seu proprietário. Ramiro Costinha comprou em 2004 um Peugeot 205, com o ano de fabrico a remontar 1987 e que, na altura da compra, mostrava nos instrumentos 90 mil quilómetros percorridas pelas estradas. Comprou-o pelo preço simbólico de € 1 (um Euro), tal como consta no contrato de compra e venda. O seu proprietário Ramiro Costinh, mecânico de automóveis de profissão, pensou, um dia, em transformar este automóvel numa bandeira portuguesa sobre rodas. Retirou todo o interior do carro, pintou-o com as cores da bandeira nacional e seu escudo. Por fim, montou novamente todo o interior do carro, todo ele também com as cores de Portugal: não existe nada no interior e exterior deste carro que não tenha as cores da nossa bandeira, até os pneus! Foi imenso o trabalho que investiu nas horas vagas, mas diz que o fez com todo o gosto e amor a Portugal.
No mundial de 2016 o automóvel foi a sensação de todos os eventos na Alemanha, acompanhando sempre a seleção nas cidades onde esta jogou, além de estar presente em Marienfeld uma freguesia da cidade de Harsewinkel no distrito de Gütersloh, onde ficou hospedada a selecção portuguesa. Na altura, a FAPA – Federação das Associações Portuguesas na Alemanha –, organizou uma enorme festa de boas-vindas para saudar a selecção portuguesa. Foi nesse local que todos os jogadores da selecção das 5 quinas deixaram o seu autógrafo no capô da viatura.
Este automóvel marca actualmente 291mil km no seu contador de km: nestes 17 anos tem percorrido vários países europeus aonde a selecção se tem deslocado, assim como tem sido notícia nas redes televisivas e outros meios de comunicação. Estes mais de 200 mil km percorridos têm sido momentos de alegria, amizade e também acompanhado de alguma tristeza, mas sempre com “Portugal no Coração“ como nos disse Ramiro Costinha, que agradece todo o apoio que tem tido para as deslocações. O seu maior desejo é que este carro um dia seja exposto no Museu da Selecção Nacional. Se este sonho não se realizar, um lugar no Museu da Emigração, que está previsto ser construído em Colónia, deverá vir a ter de certeza.
O jogo contra a França neste Europeu também foi um jogo de sofrimento, mas o paciente ainda respirou até aos oitavos de final, onde já não teve sorte e sucumbiu a um golo da selecção da Bélgica. Faltou-nos um pouco de sorte, mas Portugal continua sempre no nosso coração e como se leu nas redes sociais “Caímos, mas caímos de pé” e “A ganhar ou a perder, Portugal até morrer”.
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