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Episódio da História de Portugal contado de uma forma palerma e sem um pingo de objectividade

Eça de Queirós

Carta aberta do escritor e diplomata Eça de Queirós ao Comité Olímpico Internacional por vias de Portugal não ganhar mais medalhas do que aquelas que ele considera merecidas tendo em vista o vasto e longo legado que a Nação Lusa deu (e continua a dar) ao mundo.


João Pedro Santos

Caro COI, venho por este meio apelar a uma revisão dos desportos ditos olímpicos. Já vai sendo hora de modernizar o quadro desportivo idealizado pelo meu compincha, Barão Pierre de Coubertin nos idos de mil, oito e noventa e seis.


Mas antes de me aprofundar nesta questão aproveito para parabenizar os medalhados da edição de Tóquio 2020 que como é do conhecimento geral só se realizou em 2021 mas como as medalhas já estavam prontas e os posters e os cartazes já estavam impressos estar a mandar fazer tudo outra vez só para mudar a data era um cabo dos trabalhos e ia custar uma pipa de massa.


Como isto é desporto amador, o dinheiro não anda para aí aos pontapés e entende-se bem a decisão.


Permitam-me que me alongue um pouco no que às medalhas portuguesas diz respeito.


O primeiro medalhado, o mui excelente e excelso cavalheiro Jorge Fonseca, arrecadou a medalha de bronze na modalidade judo. Aprecio o judo, faz-me lembrar os meus tempos estudantis em Coimbra quando bebíamos uns copitos e terminávamos a noite em altercações viris todos agarrados uns aos outros. A diferença é que no judo fazem-no com regras e vestidos de kimono que é uma espécie de pijama branco que custa mais a amarrotar. Só eu sei o que me custava chegar a casa depois de uma noite de copofonia com o fato todo amarfanhado. Para tirar os vincos à farpela era um trinta e um desgraçado. Se eu soubesse o que sei hoje saía à noite sempre de pijaminha para me ver livre de trabalhos no dia seguinte.


A dama Patrícia Mamona almejou conseguir a prata no triplo salto que é um desporto que dá ideia que é para quem acredita que um só pulo não é suficiente e lhes é dado mais dois pulos para que o pulo final seja mais vistoso e imponente. Eu até sou de opinião que deveria existir o quádruplo salto, o quíntuplo salto e até o nônuplo salto. Quantos mais pulos, melhor. Aliás, o atleta podia começar a pular de manhã e só terminar de pular à tarde, a bem do suspense desportivo.


O cavalheiro Pedro Pichardo foi campeão olímpico também na mesma modalidade do triplo salto. Criou-se alguma celeuma por motivos do cavalheiro Pichardo só ser português há pouco mais de meia-hora mas isto bem vistas as coisas a terra é de quem a sente. D. Afonso Henriques também não era português e não se vê ninguém a mandar vir com o homem. O cavalheiro Pichardo pode ter nascido em Cuba mas é apreciador de uma boa caldeirada de marisco e de uma fresca salada de polvo, se isso não é sentir-se português então não sei o que seja.


Para finalizar o senhor Fernando Pimenta arrecadou a medalha de bronze na canoagem. O senhor Pimenta vê-se que é homem que se lhe der na ideia agarra no caiaque e mete-se nas Berlengas em 5 minutos ou se tiver uma tarde para gastar, é rapaz para começar a dar à pangaia e ir ao Funchal beber um café. Apre, que aqui está um homem que mete respeito.


Enfim, parabéns aos nossos atletas. 4 medalhas é já um feito digno de registo mas acredito que podíamos e devíamos trazer mais medalheiro para casa. Assim, compilei uma pequena lista de novos desportos que, sem perder o secular espírito olímpico pode vir a ser favorável aos atletas portugueses.


Está bem que o COI tem introduzido novas modalidades todas modernas, como o surf ou o skate para a rapaziada mais nova não perder interesse neste certame que se realiza a cada 4 anos vingados (ou 5, vá).


Dentro desta onda de abertura (bom trocadilho com o surf, a meu ver) proponho um conjunto de novas modalidades olímpicas.

Fotos: CC BY 2.0 Pedro Ribeiro Simões e Kyle Dias Zloi - Unsplash

A saber:

Competição de esvaziamento de pires de tremoços. Cada atleta teria um pratinho de tremoços à sua frente e o propósito consistiria em ingerir a totalidade das leguminosas amarelas o mais rapidamente possível, descascando-os com uma dentada certeira. A classificação seria atribuída numa combinação entre rapidez e precisão na dentada. Ouro certo para Portugal.


Prova de execução do maior pão com chouriço do mundo. O desportista que se dignasse a produzir o maior pão com chouriço no mais curto espaço de tempo levaria o ouro para casa. Para um bom português esta façanha é mais fácil de executar do que limpar o rabiosque a bebés. Queria ver um cidadão chinês ou norte-americano fazer um pão com chouriço.


Mandar vir. Sentar-se numa ambiente de café e reclamar o mais possível de tudo o que o rodeia, atribuindo as culpas da sua má sorte a um conjunto de fatores que são alheios ao atleta mas que ainda assim impedem que ele seja melhor sucedido nas empreitadas que fez, faz ou pensa em fazer.


Divide-se em duas modalidades: sóbrio e embriagado.


Só nesta competição estou absolutamente convencido que facilmente alcançaremos o pleno das 6 medalhas dividas entre as duas modalidade supracitadas. Com larga margem.


Chinquilho. Ora aqui está um desporto que há muito deveria fazer parte do ideal olímpico. Se o Curling, que basicamente consiste em pessoas a varrer gelo já o é desde 1998 não vejo razão alguma para o chinquilho (vulgo jogo da malha) ficar de fora.


Esvaziamento de grades de minis. Palavras para quê. A unidade de 20cl de cerveja é terrreno mais que fértil para o lusitano brilhar quando toca a virar garrafinhas castanhas escuras pela goela abaixo e com isso encher-se de glória olímpica.


Caro membros do COI, bem sei que beber cerveja de empreitada pode não parecer um desporto assim à primeira impressão mas garanto-vos que quem o pratica, e são milhões, repito, milhões, fá-lo com a dedicação, o profissionalismo e o espírito de sacrifício do melhor atleta olímpico da nossa praça. O senhores Eliud Kipoche e Kenenisa Bekele podem ser os fundistas mais consagrados da história mas não aguentavam 20 minutos sentadinhos na mesa de uma esplanada a emborcar minis de penálti. Essa é que é essa.


Grato desde já pela atenção dispensada a esta missiva.


Sem mais assunto de momento e com os melhores cumprimentos,

O vosso José Maria Eça de Queirós.



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