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Episódio da História de Portugal contado de uma forma palerma e sem um pingo de objectividade

O candidato Viriato



João Pedro Santos

Viriato, afamado líder Lusitano, liga para a Comissão Geral de Eleições para ver se ainda vai a tempo de se candidatar às Presidenciais.


Viriato Está lá! Olhe onde é que eu meto os papéis para invadir isso das eleições?


Funcionária Perdão?


Viriato Passo a explicar, o meu nome é Viriato, com certeza já ouviu falar de mim, e quero invadir as eleições para conquistar o país desses biltres que andam por aí a tentar ocupar a Lusitânia.


No meu tempo era só descer pela montanha abaixo aos berros com uma espada na mão mas agora parece que é tudo moderno, cheio de papeladas e burocracias, vai daí gostava de saber o que é que é preciso fazer para invadir essas eleições.


Funcionária Desculpe mas deve haver aqui um equívoco, as eleições não se invadem. O que se passa é que há uma votação com diversos candidatos e o candidato que ganhar essa votação sai vencedor caso tenha mais de 50% dos votos, caso contrário existirá uma segunda volta entre os dois candidatos com maior número de votantes, está a perceber como é que funciona?


Viriato Nem por isso, está a dizer-me que não há chapada?


Funcionária Bom, haver há mas é uma espécie de chapada verbal a que geralmente se dá o nome de debate.


Viriato Ah muito bem, insultos é comigo, ainda me lembro de uma escaramuça aqui há uns tempos que tive com uma guarnição Romana. Chamem-lhes tantos nomes e que fazia isto e aquilo e mãe deles para aqui e o pai para acolá, biltres, bandidos, vão mas é trabalhar e coiso e tal que eles largaram a fugir antes de haver lambada propriamente dita. Como vê, estou pronto para essa tal de chapada verbal.


Funcionária Pois, pelo que tem acontecido nos debates mais recentes não andará muito longe disso, talvez possua o que é necessário para concorrer. Diga-me, já tem as 7500 assinaturas?


Viriato Assinaturas? Oh menina, então a gente aqui para cima ainda nem tem alfabeto quanto mais assinaturas. Sabe como é, essas modernices chegam sempre primeiro à capital e às gentes do litoral. Bom, tenho aqui umas pessoas que sabem fazer um cruz numa pedra, e há um primo meu de Moimenta da Beira que desenha bem árvores e javalis. Talvez se arranje qualquer coisa. O que não me faltam é assassinaturas, servem?


Funcionária Assassinaturas?


Viriato Sim, a gente faz muito aqui por estes lados. Sempre que alguém discorda ou começa a mandar vir, a malta por norma assassina. Já temos bem mais de 7500 assassinaturas se contarmos com Romanos, Fenícios e 3 dúzias de celtas bêbedos que apareceram aqui há umas semanas a espingardar.


Funcionária Mande lá isso, pode ser que passe, até já temos no boletim de voto um senhor que também nem as assinaturas entregou portanto mais um, menos um, mal não fará. Diga-me lá uma coisa, tem programa eleitoral, o que é que pensa fazer para que os portugueses saibam o que lhe vai na alma e possam votar em si se assim o entenderem?


Viriato Então não tenho? Para já quero que Portugal seja uma província da Beira-Alta e Trás-os-Montes com capital em Viseu. Descentralizar, está a ver. Depois é acabar com essa mariquice do latim, das letras e das filosofias que os Romanos tanto gostam de apregoar. A meu ver, as pessoas querem-se é estúpidas para serem melhor governadas ou não é assim? A religião é importante, um estado laico tem de ter religião para poder justificar aquilo que não se consegue explicar. Ainda não sei bem qual a religião que vou escolher mas será uma das boas, dessas já seculares para que os meus eleitores percebam que não ando aqui por acaso, mas por vontade divina. Ou acha que um pastor chegava onde eu cheguei assim sem mais? O resto depois logo se vê.

Fotos: Jon Tyson, Unsplash & Tamorlan CC BY-SA 3.0 Fotocomposição: Kardo

Funcionária Digo-lhe já que não está a ser nada original, já temos um calceteiro que chegou a candidato, aí das suas bandas e um outro senhor que passa a vida a dizer que é enviado de Deus e que veio à Terra Lusa para dar cabo da bandidagem, de gente pindérica, e se possível de Sportinguistas e de Portistas. Tem de ser mais criativo caso contrário corre o risco de perder eleitores.


Viriato Estou a ver... Olhe e posso aldrabar?


Funcionária Então não pode? Pois claro que sim. Sabe que a política é isso mesmo, é a arte do engodo ou mais ou menos como dizia o outro, crime não é mentir, crime é mentir e ser apanhado. Se é que lhe posso dar um conselho, quanto mais aldrabar melhor.


Viriato Muito obrigado menina, tem mais algo que me possa dizer sobre isso de fazer política para eu me ir preparando?


Funcionária Nos tempos que correm, tem de ter contas abertas no Twitter, Facebook, Instagram, enfim, em todas as redes sociais que conseguir. Depois é escrever todo o tipo de alarvidades por lá, com muitos pontos de exclamação e com letras maiúsculas para mostrar que está muito indignado com este mundo e o outro. Mais ou menos assim. “COMEÇA HOJE o tempo DA MUDANÇA!!!!! Por quanto mais tempo é que se vão deixar ENGANAR!!! VAMOS ACABAR com a BANDIDAGEM que vive no nosso PAÍS!!”


Está a perceber? Escreva muito isto, todos os dias e culpe sempre os outros, as minorias, os desfavorecidos, enfim todos aqueles que não são pessoas de bem, como o senhor Viriato com certeza será. É sucesso garantido.


Viriato Obrigado pelas dicas, isso de fazer política moderna dá ideia que é andar a chafurdar mais no lodo do que uma boa guerra de guerrilha contra os Romanos pelas montanhas abaixo. Mas pronto, terei de me adaptar a estas novas táticas. Estou é aqui com um ligeiro problema...


Funcionária Diga lá?


Viriato O sinal de internet para estes lados é muito fraquinho, passo muito tempo offline...


Funcionária Então esqueça. Este negócio da política moderna faz-se todo pela internet, é como os formulários do IRS. Meu caro senhor Viriato, sem internet, não vai a lado algum.


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