António Horta
Glória da Conceição Passos Baptista Heinrichs é uma figura bem conhecida no meio da Comunidade Portuguesa em Düsseldorf, capital do Estado da Renânia do Norte-Vestefália e nas cidades vizinhas. Mais conhecida por Dona Glória, nasceu em Elvas, cidade que curiosamente não conhece e que a faz dizer que podia ter nascido em qualquer parte de Portugal – e tudo por causa do Sporting Clube de Portugal.
O pai da Dona Glória era adepto ferrenho do SCP e acompanhava o clube de Norte a Sul de Portugal. Quis o destino, e contra a vontade dele, que a esposa o acompanhasse ao sul de Portugal para assistir a um jogo do Sporting, não sabe ao certo onde, sendo, no entanto, bem possível que tenha sido contra o Elvas: o Elvas chegou na altura a jogar na primeira divisão, após fusão, em Agosto de 1947, do Sport Lisboa e Elvas e o Sporting Clube Elvense, tendo passado a chamar-se Elvas Clube Alentejano de Desporto, nome que mantém até aos dias de hoje, jogando actualmente apenas nas distritais. Certo é que as dores de parto surgiram e já não conseguiram regressar a Lisboa, procurando o local mais próximo donde se encontravam. E foi assim que a Dona Glória nasceu no hospital de Elvas, sendo Alentejana contra a vontade do pai que era “alfacinha de gema”, nascido no Bairro da Bica. Na casa do pai todos tinham de ser lisboetas e adeptos do Sporting, mas a filha fugiu à regra: além de ser Alentejana é adepta do Futebol Clube do Porto.
A Dona Glória veio para a Alemanha no ano 1967 e viveu décadas em Remscheid, cidade onde foi enfermeira no hospital local. Mais tarde conheceu o marido alemão, casou e foi viver para Düsseldorf, onde ainda hoje reside.
Numa tarde de verão do ano 83 ao passear com uma amiga em Düsseldorf, para os lados do Jardim da Opernhaus ouviram sons de música de folclore português e, curiosas, dirigiram-se para lá: estava a actuar o Rancho Folclórico da Associação Portuguesa de Düsseldorf (APD). Nesse dia, a Dona Glória teve o primeiro contacto com a comunidade portuguesa dessa cidade e, a convite do Sr. Almeida de São João da Madeira, visitou a associação no fim-de-semana seguinte, nunca pensando que viria a dedicar 21 anos da sua vida ao associativismo, especialmente quando não tinha sequer a mínima noção de como dirigir uma associação. Foi determinante a grande ajuda de Fernando Chagas um dos fundadores da APD, qual dedicou muito do seu tempo a preparar a Dona Gloria para dirigir o futuro da Associação.
As instalações da APD situavam-se na Mindenerstr. 109 onde esteve até ao início dos anos 90. Nessa altura, como o senhorio não quis renovar o contrato e as intalaçãoes eram pequenas, procurou-se casa nova e mais espaçosa. Com enormes esforços e obras de remodelação nas futuras novas instalações conseguiu-se, com a ajuda de muitas pessoas, que após 4 meses APD se mudasse para o número 206 da Erkratherstr. Foi aí que permaneceu até ao ano de 2004 e foram vários foram os eventos lá realizados, muitos em cooperação com a cidade de Düsseldorf.
Uma permanência prolongada no hospital por motivos de saúde afastou a Dona Glória do trabalho associativo. Após a recuperação e de regresso às actividades, foi com grande mágoa que viu o seu trabalho de várias décadas abalado. Foram grandes os esforços para tentar recuperar o funcionamento e pagar dívidas, o que por fim não foi possível na totalidade. Contudo, fruto de muitos conhecimentos e boa relação com o senhorio, que perdoou os meses de renda em atraso, a Associação Portuguesa de Düsseldorf encerrou as suas portas sem ter quem lhe apontasse o dedo.
A Dona Glória continua ainda hoje activa, prestando serviço de voluntariado como tradutora e acompanhando pessoas no processo de morte, não só conterrâneos, como também outras pessoas de várias nacionalidades nos hospitais de Düsseldorf. Um trabalho de voluntariado que, embora com toda a experiência de enfermeira e cursos de formação, diz não ser tarefa fácil e é, por vezes desgastante. Contudo, como esta portuguesa diz: nasci para ajudar o próximo!