Gonçalo Galvão Gomes
Cabeça de lista ao círculo Europa
nas eleições legislativas de 2015 e 2019
Com a eleição presidencial à porta, senti-me impelido a continuar com o tema das presidenciais. Desta vez, irei tentar colocar o sarcasmo e a maledicência no bolso (ou pelo menos, tanto quanto o mau feitio permitir-me), e junto com quem tem a amabilidade de dispensar o seu tempo de leitura, fazer uma espécie de raciocínio em voz alta, que me ajude (e talvez também ao leitor), a chegar a algumas conclusões sobre uma das questões semi-existênciais do momento: em quem votar na eleição presidenciais de 2021?
Para quem, como eu, acredita na democracia e na importância da escolha dos representantes, esta não é uma questão pouco relevante. Também não é por falta de conhecimento sobre os candidatos e sobre as candidaturas, porque a atenção que dou à política, peca mais por excesso, do que por defeito. E não, também não é por falta de escolha, porque a oferta é grande, tanto em termos de quantidade, como de diversidade ideológica.
Então por que razão é tão difícil escolher um candidato?
Para começar, as campanhas não estão a ser boas. É verdade que existem limitações e condicionamentos devido ao Covid-19, mas há no ar um espírito de descrença, que pode em parte ser explicado pela falta de confiança de alguns candidatos na vitória e no peso político e eleitoral do atual presidente, e também candidato. Em abono da verdade, ir a votos com Marcelo Rebelo de Sousa, é como andar ao soco com um campeão de boxe, em teoria tem-se sempre hipótese, mas o mais provável é acabar com a cara desfeita.
Outra dos problemas que me complica bastante a escolha, é ter candidatos que, ou não sabem (grave), ou mentem deliberadamente (ainda mais grave), sobre o papel do Presidente da República Portuguesa. Não me vou alongar sobre este tópico, que é extenso e traz-me à memória as aulas de introdução ao estudo do direito com o professor Marcelo Rebelo de Sousa, mas o Presidente da República não tem poder legislativo, ou seja, não redige e não propõe as leis (ou decretos-lei, propostas de lei, etc). O presidente promulga, assina, veta ou remete para o tribunal constitucional para análise, mas não substitui o parlamento e o seu poder legislativo. Isto significa que, muito do que os candidatos prometem, não é mais que palavras sem relevo e populismo.
Pegando na palavra populismo, aqui está outra das razões que torna difícil a escolha do candidato. Alguns candidatos optaram pelo populismo light, criticando os políticos e as carreiras na política, como se ser Presidente da República não fosse um cargo eminentemente político, outros, são populistas descarados, sendo que às vezes, chega a ser difícil perceber, se estamos a ouvir um candidato presidencial, ou a conversa numa tasca.
Havendo esta dubiedade em relação à escolha do candidato, vou então fazer o raciocínio inverso. Em quem é que eu não vou votar?
Pegando nos meus preconceitos ideológicos, começo por excluir o João Ferreira do PCP, porque jamais votaria num candidato comunista, e excluo o André Ventura do Chega, porque sendo emigrante, é no mínimo anedótico que votasse num candidato, cujo partido faz de sua bandeira a questão da imigração e o preconceito bacoco. Dizer tudo e o seu contrário, não muda a realidade: se nos países onde vivemos, estas pessoas fossem governo, a nossa vida seria muito mais difícil.
Por falta de simpatia, excluo a Marisa Matias, candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda. Não por falta de simpatia para com ela, mas com facto de o Parlamento Europeu servir de trampolim para todas as aventuras políticas nacionais. Incluiria aqui o João Ferreira do PCP (se não o tivesse já excluído) pelas mesmas razões, este, ainda para mais, acumula ao cargo de deputado europeu em Bruxelas, o de vereador na Câmara Municipal de Lisboa. Há quem tenha o dom da omnipresença.
Por achar que não tem decoro institucional para o cargo, excluo a Ana Gomes, candidata independente.
A Ana Gomes, que até foi uma boa eurodeputada, tornou-se nos últimos anos, numa espécie de estereotipo do taxista de Alfama. Um dos exemplos disso, foi a defesa pública que fez do Rui Pinto, uma pessoa que está a ser acusada, entre outras coisas, de ter entrado indevidamente no email de um juiz. Independentemente da culpabilidade ou da inocência do arguido, até porque não é esse o tema, não quero ter uma presidente que acha legitimo que se faça justiça na praça pública. É um facto que ela não era candidata na altura, mas já tinha responsabilidades políticas e exigia-se outro tipo de postura.
A escolha de não votar no atual presidente, é quase um imperativo moral.
O constrangimento do espaço, não me deixa escrever tudo o que quero, ou tudo o que devo, mas há uma razão que o torna inelegível e passarei a explicar.
Tenho também que fazer uma declaração de interesses, pois, tenho estima pessoal pelo homem e pelo professor, porém, pouca simpatia pelo político.
O Tiago Mayan diz que, Marcelo “foi um presidente que abdicou de o ser” e eu acho que a frase resume o mandato. O pior de tudo, é que não abdicou de o ser por falta de capacidade, porque Marcelo é um indivíduo brilhante, nem tão pouco por falta de apoio popular, que nunca lhe faltou. Abdicou de ser presidente, porque a fama e a popularidade se tornaram mais importantes do que o cargo.
Quem costuma ler o que escrevo, não ficará surpreendido, por me ouvir dizer que considero o atual governo um dos piores da história da democracia portuguesa.
E para este governo, que a história se encarregará de colocar onde pertence, precisávamos de ter tido um presidente sem medo. Alguém capaz de tomar decisões difíceis, mesmo que impopulares, e mesmo que lhe custassem parte do eleitorado do PS. O país podia viver sem um Marcelo eleito à primeira volta, mas demorará décadas a recuperar de um governo, sem controlo e com políticas à deriva.
O Marcelo do segundo mandato, que já não precisa da reeleição, será um presidente diferente, e António Costa, terá muito menos tolerância e muito menos margem de manobra, mas é no Marcelo presidente eleito em 2016, que devemos basear o nosso voto de hoje, e esse, não foi digno de o merecer.
Concluído o processo deliberativo de rejeição, sobram 3 opções: Vitorino Silva do RIR, Tiago Mayan da Iniciativa Liberal e voto em branco/nulo.
Começando pelo primeiro.
Tenho uma enorme simpatia pessoal pelo Vitorino Silva, e até aceito, que poderia acrescentar algo como deputado, no parlamento nacional. Não creio, no entanto, que a sua contribuição como Presidente da República, fosse positiva para o país, ou até, para ele próprio. É um cargo muito institucional e com um grau de ação muito específico, e o “Tino”, que é uma chapada no classismo que nunca deixou de existir neste país, pode ajudar Portugal de outras formas, nomeadamente, a nível local ou, como referi, no parlamento nacional.
O Tiago Mayan fez uma campanha com pouco fulgor, e fico com a impressão de que a Iniciativa Liberal dá pouca relevância a este candidato e a esta candidatura. Pontos positivos: é o único que não excluí votar (convenhamos que é importante), teve uma clara evolução e hoje, está muito mais consistente do que estava há um mês (os últimos debates foram relativamente interessantes), parece-me que entende bem o papel do presidente e foi o primeiro candidato a responder à entrevista do Portugal Post, o que mostra que dá relevância aos portugueses da diáspora. Pontos negativos: Está sistematicamente a dizer que é o único candidato que não é político (o populismo light que falei no início), não é um tipo muito carismático, o que na política é defeito e apesar de não o ter excluído, também não me gera muito entusiasmo.
Conclusão, o meu voto será, por exclusão dos restantes, em Tiago Mayan, candidato apoiado pelo partido Iniciativa Liberal.
Votos de bom ano para todos os nossos leitores!
Comments