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O padre Tarcísio Feldhaus scj, que acompanha a comunidade católica de língua portuguesa em Berlim há oito anos, anunciou a sua transferência, proximamente, para Handrup (Niedersachsen), sendo substituído pelo padre José Ricardo Leandro Diniz scj. Este será formalmente responsável pela comunidade berlinense a partir de 1 Agosto, devendo, contudo, assumir funções efectivas apenas em Setembro, após regressar de férias do Brasil. O novo pároco é brasileiro, tendo sido ordenado em Dezembro de 2010 em Londrina, a sua terra natal, e posteriormente transferido para a província dos Padres do Sagrado Coração de Jesus na Alemanha, Freiburg, onde aprendeu a língua alemã. Em 2013 foi designado “Schulpastoral” dum colégio desta ordem em Handrup, tendo assumido, mais tarde, o acompanhamento da comunidade portuguesa em Osnabrück.
A partida do padre Tarcísio, apesar de não constituir uma surpresa para o próprio, que afirma que “um padre religioso faz voto de obediência busca servir a igreja através da congregação onde o superior precisa – me coloco à disposição”, foi recebida com emoção pela comunidade em Berlim, que se afeiçoou ao pároco e se desmultiplicou em mostras de reconhecimento, estima e carinho, nomeadamente através de uma acção de abaixo-assinado requerendo a permanência deste padre em Berlim. No texto que dá corpo ao pedido da comunidade é feita menção ao mérito do pároco em ter unido uma comunidade dividida que atravessava tempos difíceis aquando da sua vinda, tornando-a num elemento viva em que conjuntamente se cuidam e desenvolvem diferentes culturas. Os subscritores crêem que a personalidade do padre Tarcísio é indissociável de ter sido capaz de atrair pessoas mais jovens, através de várias iniciativas, e de voltar a encher a igreja onde a comunidade se reúne.
Questionado pelo PT Post sobre como avalia o trabalho que desenvolveu nos últimos oito anos em Berlim, o padre Tarcísio identificou três resultados que considera sucessos: a vivência da fé, a aceitação da diferença e da multiculturalidade, e a construção de uma vivência em comunidade.
No que respeita ao primeiro, o pároco considera ter sido um grande desafio motivar as pessoas para irem à igreja, mostrando-se satisfeito por se ter passado de uma frequência reduzida para uma frequência concorrida, revelando que muitas pessoas se (re)aproximaram da igreja e motivadas a participar, naquele que considera ser um “desafio enorme” e um trabalho que não se termina “é como uma planta, se não regar, ela morre; e para você ter mais plantinhas você tem que continuar semeando”.
Concernente à multiculturalidade, o pároco refere que, à parte alguns “problemazinhos” pontuais, se conseguiu que “as pessoas aceitassem as diferenças, dando espaço a cada um sem roubar o espaço dos outros”. Reconhece ter havido dificuldades, nomeadamente a resistência inicial a tocar músicas com estilos diferentes (“o órgão não dá para fazer muito ritmo!”), algo que se veio a tornar um sucesso que merece o “elogio de muitas pessoas de todas as nacionalidades, porque não é monótono, tem sempre algo diferente – porque a comunidade é diferente, são pessoas diferentes, há que deixar cada um externalizar como é, como reza: torna a comunidade mais rica”.
No que se refere ao “sentimento de comunidade”, o padre constata que “as pessoas não vêm à igreja só para rezar, vêm também para conviver: o ser humano não é só um ser crente, é um ser social, tem cultura e vive a cultura – o que também pode ser comer uma comida típica do seu pais, tomar um gole de vinho do porto, um café”. Para a construção de um sentimento de comunidade considera que foram determinantes eventos sociais, como a organização de café-convívio após as missas, almoços de convívio mensais, festas de Natal de Ano Novo, entre outras iniciativas.
O padre Tarcísio, apesar de dizer que nunca foi um homem dos média, distinguiu-se, também, por uma comunicação muito activa com a comunidade que acompanhou. Inicialmente estruturada em torno do Facebook, cuja utilização teve de ser cessada face ao novo regulamento europeu de protecção de dados, a comunicação continuou através de notificações a partir do Whatsapp pessoal do pároco, dissociado da igreja, para as quais várias pessoas se registaram. Mais recentemente, promoveu o lançamento de uma nova página web https://sites.google.com/site/comunidadecatolicaberlin e recorreu ao YouTube para transmitir missas. Este último meio foi fonte de grande satisfação para o pároco, que teve várias pessoas a pedirem-lhe para seguir a missa da comunidade, apesar de terem possibilidade de assistir a missas em Fátima, no Brasil, em Roma… “Esta é a nossa igreja”, disseram-lhe muitos – “é bonito de ouvir, é a nossa igreja, a nossa comunidade; posso assistir a outras missas mas eu quero manter contacto com a minha, com a nossa comunidade. Isso significa que houve um crescimento bonito, sentir-se comunidade”, partilha com satisfação.
O ainda pároco da comunidade em Berlim diz conhecer o sucessor, com quem tem partilhado impressões em encontros anuais da ordem que integram e que diz saber “do desenvolvimento bonito da comunidade e do desafio de chegar de novo a uma comunidade e dar sequência ao que já existe. Ele sabe que a comunidade e bastante dinâmica, viva, multicultural e vem com muita alegria para cá. “Acrescenta confiar “que a comunidade o receberá com alegria”, mesmo que presentemente saiba que as pessoas estejam “infelizes” com a minha partida. Não significa rejeição ao padre que vem, é só uma manifestação em como gostariam que continuasse aquilo que perceberam que funcionou bem”. Aos congregantes afirma que “a comunidade estará em boas mãos, não há motivo para medos ou receios” e deseja “que a comunidade persevere, de mãos dadas – não gerar divisão, continuar unidos”.
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