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Alfredo Stoffel e Luciano Caetano da Rosa discutiram os marcos da Lusofonia na Alemanha

Atualizado: 21 de ago. de 2020

Alfredo Stoffel

Na qualidade de membro dirigente do GRI-DPA e.V e como membro do Conselho das Comunidades Portuguesas na Alemanha, voltei a encontrar-me, com o Dr. phil. Luciano Caetano da Rosa, co-editor da revista Lusoram, a quem dirigi uma pergunta que considero de grande pertinência, a saber:


O português é a quarta língua mais falada a nível mundial. Representa 3,6% do PIB do nosso planeta. Em meados do século XXI, as projeções apontam para 390 milhões de falantes, e em 2100 a lusofonia atingirá os 470 milhões. A posição geo-estratégica da língua mudar-se-á para a África com o maior número de falantes. Quer assinalar marcos importantes para a Lusofonia na Alemanha?


Segue-se a resposta de Luciano Caetano da Rosa:


Em primeiro lugar, gostaria de referir a importância da revista Lusorama, de que já foram publicados 110 números.


Não é descabido assinalar aqui, com gratidão, a hospitalidade que nos primeiros números de sua existência foi concedida à Lusorama no quadro da revista Hispanorama. Este sentimento de gratidão é extensível à Associação Alemã de Professores de Espanhol.


Como, todavia, frequente e desejavelmente acontece, o desenvolvimento natural das coisas veio trazer a emancipação linguística, literária e cultural numa publicação autónoma da Lusorama sem tal, contudo, representar qualquer pulsão concorrencial com a sua congénere hispanista.



Os estudos científicos e culturais em língua portuguesa, ou alemã, de índole lusitanista e sobre todos os países lusófonos/lusógrafos passaram a dispor de um órgão de publicação na Alemanha onde especialistas da Lusofonia/Lusografia de muitos países vêem seus artigos e trabalhos editados.


Em segundo lugar, cabe-me aqui ressaltar o papel de Teo Ferrer de Mesquita que foi durante décadas um embaixador da Lusofonia no espaço de língua alemã, ora como livreiro, ora como editor e distribuidor, ora como organizador de eventos literários, musicais e culturais.


Convidou para tanto escritores, tradutores, artistas, músicos dos países lusófonos, dando assim a conhecer culturas até aí não tão acessíveis na Europa Central e nomes como José Cardoso Pires, Saramago, Manuel Alegre, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís, Teolinda Gersão, Lídia Jorge, Óscar Lopes, Arnaldo Saraiva, Eduardo Lourenço, Ilse Losa, Alice Vieira, António Mota, Carlos Paredes, Amália, Carlos do Carmo, José Mário Branco, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ignácio de Loyola Brandão, Mia Couto, Paulina Chiziane, Pepetela, J. E. Agualusa, Ondjaki, Germano Almeida, enfim, uma infinidade de figuras marcantes nas Artes e nas Letras da Lusofonia. Muitos arribaram à Alemanha pela mão fraterna do Teo (como é tratado entre amigos) e adquiriram nova visibilidade na Alte Oper Frankfurt, WDR-Colónia, Internationale Maifestspiele Wiesbaden, Messegelände Frankfurt (Open Air), em Universidades, Bibliotecas Municipais, Casas da Literatura, Livrarias...


O Teo fundou a livraria TFM. Era uma livraria “pequenina, mas fina” (“klein, aber fein”, como se diz em alemão) lá ao fundo da Heiligkreuzgasse em Frankfurt. Tornou-se numa “Meca da Lusofonia” onde muitos interessados de vários países podiam adquirir livros e discos de música portuguesa, brasileira, africana... por vezes até algumas peças de artesanato dessas paragens. Neste espaço se reuniram vários lusitanistas (Rainer Hess, Axel Schönberger, Luciano Caetano da Rosa, Ray-Güde Mertin, Kerstin Schuster, Gerhard Schönberger, Michael Kegler, Teo Ferrer de Mesquita e outros mais) fundaram o Deutscher Lusitanisten Verband e.V. (DLV) na tarde do dia 5 de Junho (sábado) de 1993. Esta Associação tem organizado Congressos científicos da especialidade, o mais recente foi o XIII realizado em Augsburgo no ano 2019. Já em 1983, algumas personalidades da Lusofonia (entre elas, responsáveis pela revista Lusorama) marcaram presença na Universidade de Poitiers e aí se fundou a Associação Internacional de Lusitanistas.


Paralelamente à publicação da revista Lusorama e graças sobretudo ao labor ciclópico de Axel Schönberger, foram editadas sessenta monografias científicas, como suplementos da revista ou com autonomia própria (Editora TFM, Editora DEE - Domus Editoria Europaea, Editora Valentia ) em séries sobre Linguística portuguesa, estudos sobre Literatura portuguesa e brasileira, sobre Afrolusitanística, além de trabalhos integrados na Biblioteca Românica e Latina editados por Dietrich Briesemeister, Eberhard Gärtner, Sybille Große, Maria de la Pau Janer e Axel Schönberger.


Está por redigir convenientemente o papel de difusão cultural desempenhado pelo Teo. Foi ele quem apoiou, anos a fio, a publicação e distribuição de muitas dezenas de números da revista Lusorama como seu “Publisher”, cabendo a edição científica aos catedráticos Axel Schönberger e Michael Scotti-Rosin, assim como ao signatário destas linhas. É preciso salientar neste contexto o papel dos dois catedráticos, Schönberger e Scotti-Rosin, cujo saber e abnegado empenho muito têm contribuído para levar a Lusorama tão longe, tornando-a um caso muito especial de qualidade e longevidade no panorama das revistas científicas de língua portuguesa em toda a Lusofonia. Outros catedráticos e professores honraram até à data, com trabalhos de alto nível, as páginas de Lusorama e seria longa a lista de seus nomes. Relembramos com reconhecimento, entre falecidos e vivos, Dieter Woll, Heinz Kröll, Ray-Güde Mertin, Rainer Hess, Dietrich Briesemeister, Sybille Große, Rosa Maria Sequeira, Matthias Perl, Eberhard Gärtner, Erich Kalwa, João Barrento, Dieter Messner, Henry Thorau, Werner Thielemann, Helmut Siepmann, Bodo Freund, José Luis Azevedo do Campo, Marcel Vejmelka... lusitanistas de marca d’água. Desde já me penitencio pela omissão não malevolente de nomes de pessoas de muito mérito e competência, sobretudo nas estruturas universitárias intermédias - Mittelbau - sem cujo contributo a formação dos estudantes seria impensável.


Houve por certo alguns apoios à revista, embora limitados e... interrompidos contra o previamente estabelecido, mormente por quem de direito o deveria fazer, como foi o caso do então designado Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, a quem, ainda assim, manifestamos reconhecimento enquanto comprou um certo número de exemplares para distribuir por leitorados e outras instituições. Hoje, a Lusorama continua, com dificuldades, mas continua! A TFM - Livraria da Lusofonia existe e desenvolve-se criativamente graças à competência e motivação de Petra Noack. Aí actua muita gente de talento em eventos culturais e, neste caso, apraz-me evocar, por exemplo, o tradutor premiado Michael Kegler, em sessões literárias.


Enfim, a Lusitanística continua presente em muitas Universidades no espaço de língua alemã. Consulte-se para tanto o ‘site’ do Instituto Camões que também tem a seu cargo o Ensino do Português no Estrangeiro - E.P.E., constando à propos muito ou algum descontentamento entre professores pela forma como são tratados, além da “famosa” propina para frequentar os cursos pelos filhos dos trabalhadores portugueses e luso-descendentes, em geral, existindo esta propina ao arrepio do que postulam os preceitos constitucionais.

O Conselho das Comunidades Portuguesas na Alemanha e o Associativismo em geral também são promotores, cada um à sua maneira, dos valores da Lusofonia, da convivialidade e da fraternidade em português.


A Lusofonia é hoje uma realidade vasta e complexa comemorada no Dia da Língua Portuguesa a 5 de Maio em Portugal e nos PALOP, assim como a 5 de Novembro no Brasil, apresentando-se ligada ao que se convencionou chamar “diplomacia económica”.


Tendo partido da “pequena casa lusitana”, a Língua Portuguesa é hoje em todos os continentes a pátria de, pelo menos, uns 250 milhões de almas, com um crescimento exponencial na Internet, dir-se-ia mesmo galáctico, ao lado de línguas francas como o inglês e o espanhol, havendo entre as duas línguas ibéricas uma grande intercompreensibilidade. São muitíssimos os “sites” de língua portuguesa e aqui sugiro mais um bem recente: www.lerecontar.com, o qual garante o acesso gratuito a contos inéditos de autores lusófonos.


Enfim, após Saramago, já vai sendo tempo de a Lusofonia ganhar novo Prémio Nobel da Literatura, não faltando em todos os continentes da Terra grandes criadores de narrativas, cuja verdade ficcional tematiza e problematiza o ponderável e o imponderável na natureza humana, com um valor estético adultamente afeiçoado pela “última flor do Lácio” numa considerável pluralidade de estilos. Está lançado o aviso à navegação lá para as bandas de Estocolmo...


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