Angela Merkel, que abandona este ano a liderança do governo alemão, deixa “a sua marca” na União Europeia, acredita Katrin Boettger, diretora do Instituto para a Política Europeia (IEP), e um lugar “difícil de preencher” pelo sucessor.
Lusa - Joana de Sousa Dias
(Parte da peça vencedora do 1º Prémio em Portugal “O legado de Angela Merkel na Alemanha”)
Depois de mais de 15 anos no poder, a chanceler não avança para um quinto mandato, ficando a sua governação marcada por um pragmatismo que “contribuiu para muitos compromissos encontrados ao longo dos anos.
“Merkel tem contribuído para fortalecer o Conselho Europeu (...) Em todas as crises, económica e monetária, dos refugiados e a recente crise provocada pela pandemia de covid-19, o seu governo seguiu inicialmente um percurso nacional, antes do caminho mais europeu a longo prazo”, sustentou à agência Lusa a diretora do “Institut für Europäische Politk”, com sede em Berlim.
Boettger recorda a votação por maioria qualificada (QMV) sobre a quota de refugiados, em 2015, como uma das poucas medidas europeias que Merkel viu falhar a nível europeu.
“Devido à abordagem mais pragmática e menos visionária para a formulação de políticas, parece contraintuitivo falar de um ‘legado europeu’. Como membro mais antigo do Conselho Europeu ela deixou a sua marca”, sustentou, recordando as várias críticas de analistas e políticos de que foi alvo por não “revigorar” mais cedo a aliança franco-alemã e o processo de integração europeu.
“Pode justificar-se por dificuldades internas em manter a ‘grande coligação’ governamental, enquanto tanto a União Democrata-Cristã (CDU) como o Partido Social- Democrata alemão (SPD), procuravam novos líderes partidários”, acrescentou.
Um dos assuntos que a chanceler não deixou cair, adiantou a diretora do IEP, foi a defesa da democracia e do Estado de Direito da União Europeia. No entanto, “muitos criticam a sua posição em relação à Polónia e à Hungria como sendo muito conciliatória”.
Parece inquestionável que Angela Merkel vai deixar um lugar “difícil de preencher”, com grandes responsabilidades, para o seu sucessor.
“Toda uma geração terá de se familiarizar com o facto de que esse cargo vai ser preenchido por um homem. Há uma forte possibilidade de que uma Alemanha pós-merkel seja politicamente mais polarizada, o que também teria um efeito de desaceleração na tomada de decisões ao nível europeu”, frisou.
No entanto, Katrin Boettger acredita ser muito difícil antecipar como será a UE sem Merkel, já que também é para já impossível prever quais serão os próximos desafios.
O novo líder da CDU, sucessor de Annegret Kramp-Karrenbauer, será escolhido durante o congresso do partido, que decorre hoje e sábado, depois de várias vezes adiado devido à pandemia de covid-19.
As eleições para a escolher um novo chanceler alemão estão marcadas para 26 de setembro.
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