Entrevista | Paulo Micael Jesus Pinto
TPP
Paulo Jesus Pinto é membro do Conselho Municipal de Euskirschen, presidente da associação de pequenas e médias empresas da CDU no círculo de Euskirchen e fundou a sua própria empresa de consultoria de gestão em 2010 – a Pinto Unternehmensberatung GbR . Atendendo ao seu envolvimento político, quisemos conhecer a avaliação que tece do actual momento do seu partido, e considerando o seu contacto com a economia real, como olha para o impacto da pandemia nas empresas.
PT Post O anterior Cônsul-Geral em Düsseldorf, José Manuel Carneiro Mendes, defendeu acerrimamente que a comunidade portuguesa deveria envolver-se cívica e politicamente mais na sociedade alemã e referiu-o como um exemplo positivo. O que o motiva e o que pensa sobre essa vontade?
Paulo Jesus Pinto Honra-me que o Senhor Carneiro Mendes me tenha referido como um exemplo positivo. O envolvimento político nunca deve depender do factor migração (independentemente da nação). Nasci na Alemanha e, portanto, estou politicamente comprometido com minha pátria. Simultaneamente, a Alemanha é o país no qual - independentemente das raízes – uma pessoa se pode desenvolver livremente e em paz. Esta é uma conquista notável da sociedade civil, que felizmente conta com o apoio de concidadãos e concidadãs de origem portuguesa.
PTP Apoiou Friedrich Merz para a presidência CDU. O que é que no programa dele o convenceu a apoiá-lo?
PJP Friedrich Merz defende uma mudança de curso e um caminho completamente diferente daquele que a Sra. Merkel representa. A base do partido estava muito unida no apoio a Merz, mas os militantes do partido não puderam decidir através do voto (como acontece no SPD), que estava reservado aos delegados ao congresso. Respeito a votação e felicito o senhor Laschet; no entanto, não reflecte a visão dos membros do nosso partido. O resultado não folgado também mostrou que o partido está obviamente dividido e que os conservadores na CDU se sentem cada vez mais sem-abrigo.
PTP Como avalia a linha política actual da CDU?
PJP É excessivamente cautelosa e navega-se à vista, sem que seja identificável uma estratégia clara para os próximos meses. Assim, mês após mês, anuncia-se o lockdown seguinte. Sinto a falta de um conceito claro e de soluções baseadas em factos. O valor da média de incidência de infectados por 100.000 habitantes nos últimos 7 dias, que antes tinha sido estabelecido em 50, e que agora é 35, não é científico, mas sim um compromisso puramente político. Além do mais, considero-o parcialmente ilusório.
PTP Considera que o Sr. Laschet seria um bom candidato a chanceler? Qual deve ser o perfil do candidato democrata-cristão a chanceler e que visão deve ter para a Alemanha?
PJP O Sr. Laschet sabe como ganhar eleições. Provou isso de forma impressionante como primeiro-ministro de Renânia do Norte – Vestefália e líder do partido. Sem querer desvalorizar o Sr. Laschet, muitos na CDU, entre os quais me incluo, temem que um possível chanceler Laschet “seja mais do mesmo” no que respeita ao caminho que estamos a experienciar sob liderança da Sra. Merkel. Um candidato democrata-cristão a chanceler deve ser forte na tomada de decisões e ser um elo de ligação de todos na Alemanha.
PTP Tem criticado publicamente a política pandémica do governo federal. O que é que o preocupa? Que alternativas recomendaria?
PJP Esperaria que o governo federal não recorresse a apenas um punhado de pessoas, pessoas seleccionadas do Charité, Conselho de Ética e RKI, para formar opiniões. É necessário um grupo maior de cientistas - os melhores no seu campo, que sejam também controversos e críticos da situação actual e que queiram fazer tudo para garantir novamente uma vida normal para os cidadãos e para que as restrições aos direitos fundamentais sejam levantadas sempre que possível, o mais rápido possível. Outros países mostram como tal pode funcionar. Num mundo global com liberdade de deslocação NUNCA seremos capazes de eliminar completamente a Covid-19 e as suas mutações. Devemos ser honestos connosco mesmos e aprender a conviver com o vírus, ao mesmo tempo que protegemos os grupos vulneráveis através da vacinação, evitando, assim, tanto quanto possível, casos graves da doença.
PTP Crê que a liberdade de expressão está em risco face às medidas de combate à crise pandémica, especialmente considerando que há controvérsias sociais e jurídicas profundas sobre o assunto?
PJP Pode-se e é permitido expressar a opinião própria livremente na Alemanha. Dizer o contrário não reflecte a realidade. No entanto, nestes tempos de pandemia, é particularmente assinalável a estigmatização e desprezo de opiniões que não estão exactamente alinhadas com as do governo. O conhecimento tem várias facetas e vive do debate. Ninguém detém sozinho a verdade e eu estou cada vez mais ciente de que um debate factual e a assunção de um ponto de vista decididamente diferente se está a tornar cada vez mais difícil. Muito rapidamente é feita uma catalogação entre “leais ao sistema” e “defensores de teorias da conspiração”, mas o espectro de opiniões é muito mais diverso do que isso.
PTP Qual é a sua posição sobre a vacinação obrigatória ou a atribuição de privilégios para pessoas vacinadas?
PJP Não haverá obrigação de vacinação directamente imposta pelo Estado, algo com que concordo. Mas, certamente, haverá empresas que darão privilégios aos vacinados. Já estamos a presenciar isso com a companhia aérea Quantas, que só transporta pessoas vacinadas para a Austrália, ou empresas de viagens que não possibilitam férias sem o certificado de vacinação. Restaurantes e cinemas farão tudo o que estiver ao seu alcance para terem o maior número possível de clientes, com o fim controlar as perdas financeiras. Se só pessoas “vacinadas” forem permitidas na sala de cinema 1, porque isso garante 100% de ocupação, o racional de negócio vai determinar que isso acontecerá por si mesmo. Posso perceber isto do ponto de vista empresarial, mas é apenas o início de uma sociedade de duas classes, algo que vejo com preocupação.
PTP Tem manifestado preocupação concernente aos efeitos desta crise na economia e nas empresas. Como consultor de gestão, o que é que tem identificado? Está preocupado com o facto de muitos dos problemas poderem estar encobertos pelas actuais ajudas financeiras do Estado?
PJP Não quero anunciar um cenário de terror, mas muitos empresários estão com água até ao pescoço. Conheço pessoalmente proprietários de negócios que ainda aguardam o pagamento das ajudas de Novembro, e que se confrontam com a sua existência em ruínas. Estamos a falar de pessoas que trabalharam no duro e pagaram seus impostos na Alemanha ao longo décadas e que não sabem se, depois de amanhã, ainda terão alguma coisa no frigorífico. Haverá um elevado número de falências após a Covid-19, que de momento ainda só podemos estimar imprecisamente.
PTP Vi que lançou uma reflexão sob o tema “Tenho futuro na Alemanha?”. Porque é que acha que essa é uma questão importante? Como é que desejaria que fosse a Alemanha no futuro?
PJP A pergunta “tenho um futuro na Alemanha?” está relacionada, em geral, com o que virá depois da pandemia: receios sobre o futuro, por um lado, e como é que o nosso país e a nossa sociedade irão mudar, por outro. Irão os extremismos dominar o discurso ou seremos capazes de estender a mão uns aos outros para garantir uma convivência pacífica?
PTP Há quem queira proibir a utilização do termo “antecedentes migratórios”, e há outros que querem - como “Die Linke”, em Berlim – usá-lo para definir preferência/vantagens no acesso ao serviço público. Como é que encara esta discussão?
PJP “Pessoas com antecedentes migratórios” é uma constatação dos factos e, do meu ponto de vista, não desqualifica uma pessoa na sua dignidade e no seu trabalho. O termo descreve o facto de as raízes familiares provirem de fora das fronteiras da República Federal da Alemanha. A mudança no uso da nossa língua, nos últimos anos, levanta-me, por vezes, algumas dúvidas. Porque é que se permite que a maioria da nossa sociedade se vergue, cada vez mais, e que se meta tudo no mesmo saco? A proibição da utilização de determinadas expressões é o início da desintegração de uma sociedade pluralista.
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